Autor: Pedro Quintão
It's What's Inside tinha-me deixado de pé atrás, especialmente após ver o trailer que me pareceu excessivamente confuso. No entanto, tenho de admitir que estava completamente enganado, pois acabou por se revelar uma excelente surpresa dentro do catálogo da Netflix, acabando por ser muito mais interessante e bem construído do que esperava.
O ponto de partida da premissa já é, por si só, intrigante. Eleva o conceito clássico de troca de corpos (body swap) para um novo nível, misturando elementos de filmes como Talk to Me e Bodies Bodies Bodies, ao mesmo tempo que explora temáticas psicológicas e sobrenaturais. Esta combinação, à primeira vista, poderia parecer caótica, mas o realizador consegue equilibrar bem os diferentes elementos, resultando num filme cativante e surpreendente. Um dos pontos altos é, sem dúvida, a edição, que é excecional durante a maior parte do filme. Aproximadamente 80% do tempo, a montagem é dinâmica, fluida e contribui para manter a nossa atenção. No entanto, em dois ou três momentos cruciais, senti que a edição se tornou demasiado apressada, dificultando a compreensão de certos dramas internos das personagens. Isto resultou numa ligeira confusão, já que o desenvolvimento de algumas histórias não teve o espaço necessário para respirar.
No que toca às personagens, este é outro dos grandes trunfos do filme. As interações entre elas são credíveis e envolventes, e os atores fizeram um trabalho brilhante ao interpretarem diferentes personalidades, devido à troca constante de corpos. Aqui destaco, particularmente, a personagem de Shelby, que achei chata e irritante, os momentos em que trocava de corpo revelavam a capacidade de cada ator de manter e respeitar a essência dessa personagem, reforçando traços característicos da sua personalidade, mesmo quando interpretados por outros. Este detalhe de continuidade nas interpretações, que poderia facilmente ter falhado, foi um dos aspetos mais bem conseguidos do filme, demonstrando uma atenção ao detalhe e uma consistência louvável.
Contudo, o grande problema de It's What's Inside reside, infelizmente, na sua reta final. Até então, o filme tinha-me mantido agarrado a cada segundo, mas o desfecho pareceu-me apressado, como se as decisões narrativas tivessem sido tomadas de forma demasiado rápida e sem a devida preparação. A reviravolta final, apesar de interessante, também não foi devidamente explorada, e a conclusão deixou-me com a sensação de que faltava algo. É como se a equipa de produção tivesse construído uma narrativa sólida e cativante ao longo de grande parte do filme, mas depois decidisse apressar tudo nos últimos cinco minutos, comprometendo o impacto final.
Apesar desta falha, não posso deixar de considerar It's What's Inside uma experiência invulgar e, no geral, bastante positiva. É um daqueles filmes que surpreendem pela forma como conseguem combinar elementos familiares de maneira inovadora, e apesar de alguns tropeços na reta final, valeu sem dúvida a pena pela sua originalidade.
Em 14 Oct 2024