Autor: Pedro Quintão
Don't Move prometia uma experiência de sobrevivência intensa e, à primeira vista, a premissa era realmente cativante: uma mulher em fuga de um serial killer enquanto é envenenada e lida com a perda gradual de controlo dos movimentos. A ideia de acompanhar esta mulher, com um passado traumatizante e uma situação física debilitante, podia ter sido um cocktail interessante de suspense psicológico e ação. Infelizmente, o filme não consegue sustentar o impacto inicial, e o que tinha o potencial para ser um thriller empolgante acaba por desmoronar numa sucessão de cenas previsíveis e desinteressantes.
A primeira parte do filme até tenta dar alguma profundidade à personagem principal, explorando o seu trauma passado, o que a humaniza e estabelece alguma empatia com o público. No entanto, esse ponto de partida não é bem aproveitado. Ao invés de explorar as fragilidades e complexidades da protagonista de uma forma que aumentasse a tensão, o filme rapidamente mergulha numa série de clichés que já vimos inúmeras vezes em outros filmes de sobrevivência. Enquanto, por exemplo, The Fall e 47 Meters Down pegam em premissas simples e elevam-nas através de uma construção de tensão bem executada enquanto trabalham esses clichês para tentarem reformulá-los e surpreender-nos, Don't Move faz o oposto: recicla fórmulas e falha em criar algo novo.
Visualmente, também deixa a desejar. A cinematografia é básica e não contribui para a criação de uma atmosfera de tensão e medo, algo essencial para um filme de sobrevivência. A iluminação, os enquadramentos e o ritmo das cenas de perseguição acabam por parecer demasiado amplas e sem qualquer atmosfera, quase como se estivéssemos a ver um filme direct-to-video da década de 2000.
A narrativa sofre também de um problema de ritmo. A primeira metade do filme vai lentamente construindo uma empatia com a protagonista através do seu trauma de perder um filho. No entanto, uma vez que o assassino entra em cena, o filme perde o impacto e não parece ter um sentido claro de direção. Em vez de nos deixar presos ao ecrã, cria uma sensação de monotonia, algo fatal para um thriller de sobrevivência, onde a adrenalina e a imprevisibilidade deviam estar sempre presentes.
Resumindo, Don't Move é uma experiência frustrante para quem espera uma boa dose de tensão e engenho narrativo. As boas ideias iniciais rapidamente se perdem em convenções e abordagens pouco ousadas, tornando-se num thriller que se esquece assim que terminam os créditos. Acaba por ser um desafio à nossa paciência para não movermos a nossa mão até ao comando de tv e não mudarmos para outro filme.
Em 10 Nov 2024