Autor: Filipe Manuel Neto
**Muito bem feito tecnicamente, tem boas actuações e merece ser revisitado.**
Dirigido por F.W. Murnau, este filme de contornos expressionistas é um clássico. Para este filme, o conto original imortalizado por Goethe foi ligeiramente modificado, mas funciona bastante bem. Murnau dirigiu habilmente o filme, carregado de sombras e jogos de luz, o que lhe dá uma certa elegância, acentuada pelos figurinos e pelos cenários, nebulosos e indistintos. No que diz respeito a este ponto mais técnico, as cenas entre o Anjo e o Demónio, bem como a cena em que Fausto invoca as forças do mal são particularmente notáveis, tendo usado os melhores efeitos visuais do seu tempo. Tratando-se de um filme mudo, a música é importante e funciona muito bem, casando-se perfeitamente com o que vemos na tela.
Ao longo do filme existe uma atmosfera tensa, onde as personagens conseguem uma agradável profundidade dramática, muito especialmente Marguerite, que é interpretada muito bem por Camilla Horn, que quase a torna uma mártir da acção nefasta do mal. Fausto, como não podia deixar de ser, é culpado da sua vaidade mas, observe-se, usa as forças do mal muitas vezes em proveito de outros e não de si mesmo. Ele é o centro da história e Gösta Ekmann, o actor que lhe deu vida, soube perfeitamente como captar a essência da personagem. Mas ainda melhor que todos eles é Emil Jannings, que deu vida a Mefistófeles, o grande tentador carregado de malícia e de astúcia. Provavelmente, uma das melhores performances deste actor.
Apesar de estar um pouco esquecido, como quase todos os filmes do período mudo, este filme tem qualidade e merece ser revisitado pelos novos públicos de hoje em dia.
Em 23 Jan 2020