Autor: Filipe Manuel Neto
**Uma excelente comédia familiar com algumas críticas sociais à mistura.**
O filme é uma das comédias familiares mais famosas da década de 90, que adapta para o cinema o conto com o mesmo nome de Roald Dahl, onde uma menina, que nasceu numa família idiota e incapaz de a compreender, decide conquistar o direito a ir à escola e a aprender, coisa que os seus pais não valorizam. Porém, na escola, depara-se com uma directora cruel e sádica que vai tornar-se na sua grande adversária, ao mesmo tempo que a sua professora se transforma na sua melhor amiga.
É um filme muito bom e agradável, com um género de comédia simpático e alguma fantasia. As personagens são razoavelmente bem feitas, embora um pouco artificiais na sua concepção, e o elenco é muito bom. Mara Wilson, apesar da juventude, brilhou no papel principal e garantiu o arrancar da sua carreira de actriz. Danny DeVito, que também assegura uma direcção eficaz e bem executada, faz um trabalho muito inteligente como actor, sendo bem coadjuvado por Rhea Perlman. E apesar de Embeth Davidtz fazer um bom desempenho, é a performance avassaladora e empenhada de Pam Ferris, como vilã, que rouba as nossas atenções, num trabalho com tanto de icónico e marcante quanto de histriónico e exagerado.
Pode passar despercebido, no meio da comédia e da leveza do próprio filme, mas eu senti haver aqui, bem marcado nos Wormwood, uma crítica sarcástica a uma certa classe média americana: tal como muitas famílias norte-americanas, eles aprenderam a fazer tudo, ou quase, diante do ecrã da televisão, e não se valorizam uns aos outros, sendo em todos os aspectos uma família largamente disfuncional. Ele é um vigarista, ela é vaidosa, fútil e viciada em jogo, o filho mais velho parece não ter qualquer perspectiva de futuro nem saber o que quer da própria vida. Como família, eles não valorizam nada a não ser o dinheiro fácil, como se observa pelos estilo de concursos televisivos esquisitos que eles adoram e pela decoração barata e de mau gosto da casa deles. Apesar de tudo, eles julgam-se muito mais espertos que os outros por serem assim.
Tecnicamente, é um filme discreto. A cinematografia está dentro daquilo que se poderia estar à espera num filme cómico desta década, prolífica em boas comédias, e os cenários e figurinos são bons e convincentes, muito particularmente a escola. O filme tem alguns efeitos especiais, visuais e de som, sendo que na sua maioria cumprem bem o seu papel, sem deméritos. A banda sonora, composta por David Newman, não traz nada de realmente notável.
Em 21 Jun 2022