Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme que funcionou muito bem na década em que apareceu, mas que não tem o que é preciso para se tornar memorável.**
Apesar de ter alguma recordação de ter visto este filme na infância, a verdade é que não me lembrava dele quando resolvi revê-lo anteontem. E realmente é daqueles filmes que raramente vemos na TV e que a maioria das pessoas não recorda: é bom o bastante como peça de entretimento, mas é incapaz de dar alguma coisa que o faça memorável. É claro, se eu fosse surfista talvez a minha opinião fosse outra.
O argumento escrito traz a história de um jovem agente federal que tem de se inserir no universo do ‘surf’ para investigar um grupo de ladrões de bancos que actua rapidamente e sob o disfarce de máscaras de borracha de antigos presidentes dos EUA. O seu parceiro, um veterano do FBI, acredita que os quatro assaltantes são surfistas e a melhor forma de os identificar é infiltrando alguém nessa “tribo” urbana. E assim temos o jovem agente a relacionar-se com uma surfista de maneiras liberais que o ajuda sem saber quem ele é.
Como drama policial, é bom na forma como modela a trama e dá precisamente o que procuramos neste tipo de filmes: uma investigação delicada, criminosos elusivos, tiroteios e perseguições, etc. O único diferencial é a inserção do ‘surf’, e das personagens no meio surfista, que tem uma série de gírias e costumes pouco conhecidos da maioria do público e que é reconhecidamente territorial e fechado a estranhos. Isto ajuda a justificar o filme, mas não chega para o tornar imortal ou memorável.
É dos filmes menos interessantes da obra de Kathryn Bigelow, directora já com alguns êxitos assinaláveis. Aqui, ela faz um trabalho eficaz e bem feito: a cinematografia foi bem trabalhada e há, ao longo do filme, vários momentos em que podemos apreciar a maneira soberba como trabalhou a imagem, a cor e o movimento: as ondas, o mar durante a noite e cenas de acção onde os ladrões são perseguidos ou saltam de aviões. Graças a um bom trabalho de filmagem, a directora consegue colocar a nossa perspectiva no meio da acção: somos nós, público, que estamos a surfar ou a saltar de aviões. Gostei especialmente das cenas da perseguição a pé, provavelmente uma das melhores que já vi em filme.
Os actores, apesar de famosos, são medianos: Keanu Reeves é bonito e jovem o bastante para uma liderança ‘sexy’ e competente na hora da acção, mas ainda não desenvolveu bem o talento que lhe reconheceremos em papéis de maturidade. É bom, mas ainda preguiçoso. Lori Petty, que faz de seu par romântico, também não é brilhante ainda que pareça melhor e mais credível que Reeves. Assim, o melhor actor é Patrick Swayze, que então vivia um momento áureo da carreira enquanto recolhia os louros do seu explosivo desempenho em “Ghost”. Neste filme, ele não atingiu a qualidade desse outro trabalho, mas faz o que lhe é pedido e parece tão satisfeito que exala uma energia electrizante sempre que aparece. Gary Busey foi, igualmente, uma boa adição ao elenco, com um trabalho muito bem feito.
Em 29 Jun 2025