Autor: Filipe Manuel Neto
**Amoral, surreal e brutal.**
Este filme é uma história um pouco surreal acerca de um potencial escritor que decide escrever acerca de crimes reais e assassinos em série. Para isso, ele vai visitar os locais dos crimes com a sua namorada fotógrafa e um bizarro casal, que eles arranjaram para dividir despesas: ela parece a criatura mais burra e carente do planeta e ele é estúpido, pouco higiénico e bruto.
Acho que o filme é um pouco anti-climático na medida em que tudo é bastante evidente e conseguimos ter uma ideia clara de como as coisas vão decorrer. É óbvio que a personagem de Brad Pitt vai ser um assassino. Apesar disso, ver Pitt é um dos maiores atractivos aqui. Ele mostrou perfeitamente o seu talento, apagando o seu charme e tornando-se asqueroso, repelente, burro e tão cruel que nos impressiona. Ao seu lado, Juliette Lewis esteve fantástica ao interpretar uma jovem ingénua, carente, sem estudos e com um passado de dor e abuso, mas que amar de modo sincero o único homem que ela acha que a tratou bem. David Duchovny e Michelle Forbes dão vida a personagens sofisticadas e criativas, muito diferentes dos seus companheiros de viagem, sendo que a interacção que nasce entre eles, bem como a relação dual de simpatia e nojo simultâneo, são parte essencial de todo o filme. Nesse ponto, os diálogos são fundamentais.
O filme é violento, tem muitas cenas bastante gráficas e não é aconselhável a menores. Ao decidir uma abordagem algo amoral, onde nós é que julgamos acerca do carácter e das atitudes das personagens, o filme torna-se estranho para a maioria das pessoas, na medida em que não estamos acostumados a isso. Uma boa fotografia, bons adereços de cena e cenários, um jogo interessante de luz e sombra e muitos diálogos tornam o filme cansativo para quem quiser apenas acção e violência, mas interessante para quem procura algo mais profundo e até filosófico.
Em 14 Mar 2020