Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme notável que marcou a carreira de Douglas e de Close.**
Vi recentemente este filme e confesso que não me sinto defraudado nas minhas expectativas. E comummente considerado como um marco do sexy-thriller, e o palmarés invejável de seis nomeações – que não passaram disso mesmo - para os Óscares (Melhor Filme, Melhor Actriz, Melhor Actriz Secundária, Melhor Director, Melhor Edição e Melhor Roteiro Adaptado), associado ao enorme sucesso comercial que obteve, meio que consolidaram esse estatuto e garantiram-lhe um lugar na história do cinema.
O filme é sobre um homem preso a um casamento monótono, mas sincero, que cai no erro de se envolver sexualmente com uma elegante e solitária mulher que conhece em contexto de trabalho. Longe de aceitar que tudo não passou de um caso de fim-de-semana, ela decide persegui-lo e levar as coisas até às últimas consequências. A história é muito boa e Adrian Lyne foi capaz de a desenvolver com coerência e lógica, criando uma tensão dramática que se avoluma à medida que o final se aproxima e as atitudes das personagens se tornam cada vez mais radicais. O ritmo é perfeito, não há momentos mortos nem cenas que pareçam despropositadas. Há algumas cenas de sexo, com alguma nudez, mas não é nada que me tenha chocado, embora seja normal que na época tenham sido consideradas bastante ousadas. Tudo parece perfeito até chegarmos perto do final, onde o director perde verdadeiramente a mão e faz um final histriónico e com algumas ideias inverosímeis. Eu penso que, aqui, imperou a lógica comercial e a aposta no sensacionalismo.
Muito do sucesso deste filme assenta na enorme performance dos dois actores centrais da trama, Michael Douglas e Glenn Close. Ambos estavam a viver um momento magnifico das suas carreiras: Douglas ganharia o Óscar nesse mesmo ano com *Wall Street* e Close, apesar de ser pouco conhecida e uma aposta de algum risco por parte da produção, tinha um enorme talento, evidente na forma como trabalhou a sua personagem, carregada de nuances psicológicas e alterações súbitas de humor e de sentimentos. Se os dois actores se souberam destacar isoladamente, foram incomparáveis juntos, com a química ideal e uma verosimilhança notável. Ambos conseguiram, com este filme, um dos trabalhos mais icónicos das suas vidas (particularmente Close). O filme conta ainda com a participação de Anne Archer, impecável no papel da esposa traída.
Sendo um filme que aposta tanto na história contada e no desempenho dos actores, não creio que surpreenda ser um filme com valores de produção tão discretos. O filme é bom, mas não sobressai neste ponto: a cinematografia é o padrão da época em que foi feito; os cenários e figurinos, apesar de se encaixarem na história, não trazem nada de notável em si mesmos, para além do relativo monocromatismo do figurino de Close, quase sempre em tons de branco. Os efeitos são quase nulos e a banda-sonora de Maurice Jarre não é, definitivamente, das mais interessantes que já ouvi.
Em 14 Nov 2020