Autor: Filipe Manuel Neto
**Bastante fiel ao material original, ainda que relativamente adulto, o filme é bastante bom.**
Após ter visto o filme de 1946, que também adapta para o cinema o romance homónimo de James M. Cain, eu decidi-me a ver este filme, que se tornou particularmente famoso não tanto pela sua qualidade ou pela participação de vários actores de renome, mas simplesmente por ser muito mais picante do que o normal num filme dos anos 80… de facto, este filme tem diversas cenas de sexo, algumas delas bastante intensas. Porém, e a fazer fé naquilo que fui lendo sobre o livro original inclui realmente material mais forte e adulto, pelo que o filme se limitou a fazer-lhe justiça, e a trazer para a tela o que o livro já tinha nas suas páginas. Nada contra isso! Apenas fique ciente, e tire as crianças da sala!
Não vou levar muito tempo a resumir o roteiro: basta dizer que mantém, na generalidade, as linhas narrativas que todos aqueles que viram o filme mais antigo já conhecem: o caso amoroso proibido entre a jovem Cora e Frank, a maneira como ambos conspiram e acabam por assassinar o marido dela, a batalha em tribunal para aclarar o que aconteceu, as brigas constantes entre os dois… as diferenças são pontuais, mas a história é realmente muito boa, apelativa e intrigante, mesmo que já a conheçamos. Não há nada original… já vimos imensos filmes sobre infidelidade matrimonial que acaba mal, mas, a meu ver, isso não tira mérito ao filme posto que, mesmo assim, soube apresentar-nos uma história que vale a pena.
O elenco conta com vários nomes bem conhecidos: Jack Nicholson estava a viver uma fase muito boa na sua carreira profissional, tinha acabado de ganhar um Óscar de Melhor Actor e fazer uma das melhores actuações da sua vida (com o filme *Voando Sobre um Ninho de Cucos*) e foi uma aposta segura da produção. Ele é realmente muito bom no papel, muito embora eu olhe para o actor e não consiga ver nele carisma e beleza física para o papel de um galã robusto, algo rude, mas sedutor. Ao seu lado está a atraente Jessica Lange, também ela numa fase muito boa da sua carreira. Com este filme, ela atinge os píncaros do estrelato e dá-nos um trabalho pleno de maturidade e salpicado de frescura. Ela sabe ser forte, intensa e doce sem parecer ingénua (de facto, a personagem é tudo menos inocente), e isso é algo que fica bem aqui. John Colicos tem uma participação importante e simpática no papel do marido traído, mas ele, tal como Angelica Houston, não está aqui para brilhar por si mesmo.
Tecnicamente, o filme tem muitos méritos a considerar: comecemos por dizer que o filme tem uma cinematografia muito bem executada, límpida, com boas cores e luz, e que os cenários e os figurinos cumprem com muito mérito a tarefa dura de nos situar no espaço e no tempo. Não é um filme onde os efeitos tenham destaque, mas a banda sonora merece, também, uma nota de apreço posto que faz bem o seu trabalho, ainda que me pareça esquecível e banal.
Em 09 Dec 2021