Autor: Pedro Quintão
"Se eles jantassem com os holandeses, nada disto teria acontecido". Começo assim a minha crítica a "Speak No Evil" (2024), um daqueles raros casos de um remake que consegue surpreender, mesmo para quem, como eu, não viu o filme original. Fui às escuras, sem saber o que esperar e acabei por ser levado numa montanha-russa de ansiedade que não me largou até ao fim. O filme rapidamente nos catapulta para uma narrativa com diálogos intensos e momentos cheios de tensão, que crescem a cada minuto. É daqueles filmes que em que os diálogos nos fazem sentir desconfortáveis e nervosos.
O grande destaque, sem dúvida, vai para a interpretação brilhante de James McAvoy, que nos oferece uma performance digna de todos os prémios do cinema de terror. O ator consegue equilibrar com maestria a loucura da sua personagem, o que nos deixa presos ao ecrã, à espera que dê asas à sua imprevisibilidade. Acabando por dar uma profundidade rara num género tantas vezes maltratado pela crítica.
A narrativa aposta num ritmo mais lento e numa construção de suspense que difere bastante do que estamos habituados a ver nos filmes de terror convencionais. Não há uma abundância de jump scares ou mortes violentas a cada cinco minutos. Esta abordagem pode, no entanto, ser um problema para alguns espectadores que esperam um terror mais visceral e imediato, podendo afastar quem está à procura de uma experiência mais rápida e menos densa.
Para mim, o ponto negativo, e que me frustrou imenso, foram as decisões completamente descabidas de algumas personagens. Elas tomam decisões que desafiam toda a lógica e, em vez de resolverem os problemas, apenas agravam qualquer situação. Esta falta de consciência das personagens quebra um pouco a imersão, pois acabamos por questionar constantemente as suas ações.
Apesar destes defeitos, "Speak No Evil" é um filme que se destaca no meio dos lançamentos de terror atuais. Não é perfeito, mas é intenso, bem construído e oferece uma experiência que irá perdurar na minha memória. Para mim, é o melhor filme de terror lançado pela Blumhouse desde "The Invisible Man" (2020). Não é necessário conhecer o original para apreciar este remake, e talvez seja até melhor assim, pois a experiência de ser apanhado desprevenido foi verdadeiramente gratificante.
Em 13 Sep 2024