Autor: Filipe Manuel Neto
**Um bom filme de acção e ‘suspense’, ainda que com várias falhas a apontar.**
Este é um agradável thriller, que nos apresenta uma história que não parece original nem incomum, mas que funciona perfeitamente e entretém agradavelmente o público. Tudo se inicia quando uma jovem professora de subúrbio, casada e mãe de uma menina, começa a ter ‘flashes’ de memória particularmente violentos. Ela tem amnésia, não sabe quem é, e a perspectiva, cada vez mais palpável, de um passado sombrio leva-a a investigar melhor as coisas, receando as consequências que podem advir para a sua família. A fim de levar adiante as suas inquirições, ela contracta um detective privado que parece estar apenas a tentar cobrar-lhe o mais possível.
Eu prefiro não revelar muito mais sobre o roteiro, a fim de não fazer spoil, mas a verdade é que senti, ao ver o filme, que as ideias não são de todo originais e que já vi alguns filmes que soam de modo similar. Claro, considerando a quantidade de filmes feitos por ano, é um problema razoavelmente menor e o mais importante é, mesmo, se as coisas funcionam como devem. Neste caso, o filme é eficaz e oferece ao público aquilo que lhe promete.
O director Renny Harlin é suficientemente competente para o trabalho que tem em mãos, e garante uma direcção capaz, mas não isenta de falhas. Por exemplo, não foi capaz de se aperceber que a trama soa de modo excessivamente rebuscado, a partir de certo ponto, e que o filme ficou um pouco longo para o seu género, sendo recomendável fazer alguns cortes cirúrgicos na sala de edição para lhe retirar quinze ou vinte minutos sem prejuízos notáveis. Um pouco por consequência, o filme tem um ritmo desigual e às vezes perde tempo demais, imobilizando a acção e prejudicando a construção do ‘suspense’.
Considerando que é um filme com bastante acção, creio que é justo dar um louvor especial ao trabalho dos duplos e, também, das equipas de maquilhagem e de efeitos especiais e de som. São eles que ajudam a criar as perseguições, os tiroteios, as explosões e todas as outras cenas incríveis que colocam o público na ponta do assento. Sem originalidade, mas com eficácia e profissionalismo, estes artistas deram um contributo magnífico ao filme e é preciso dizê-lo. Sem muito material original (apenas uma ou duas melodias), a banda sonora inclui uma série de temas de qualidade que passam por Muddy Waters, Patti & Labelle e outros artistas, além de uma bela canção de Neneh Cherry como tema final. A cinematografia, cenários e figurinos ficam pelo ‘standard’ e dão só o que têm de dar.
Geena Davis encabeça um elenco carregado de bons actores. Ela é uma protagonista com créditos e uma boa aposta, dando-nos uma interpretação consistente. Porém, é muito mais insegura quando o enredo entra no romance. Ela não é boa actriz romântica, e parece não ter estabelecido uma parceria muito boa com Samuel L. Jackson. Este actor, que não tem qualquer dificuldade com as cenas de acção, também parece um peixe fora de água se as coisas resvalam para o romance. Por sorte, o filme não lhe exige muito isso, e o actor faz um trabalho essencialmente positivo. Craig Bierko é um vilão competente, e David Morse é uma boa adição, ainda que tenha pouco tempo para fazer algo bom. Brian Cox não teve tempo para nada e, sinceramente, acho que foi desperdiçado.
Em 08 Apr 2024