Autor: Filipe Manuel Neto
**Quem quer ver um banho de sangue gratuito antes do pequeno-almoço hoje?**
Hong Kong tem um longo historial de bom cinema de acção, mas este filme não me pareceu tão bom e interessante assim. Muitas pessoas o adoram, dizem maravilhas e eu aceito muito bem isso, acho que cada pessoa tem os seus gostos, mas a verdade é que o filme não funcionou comigo. Parece uma desculpa para um filme de acção.
John Woo é um director que não conheço muito bem. Gostei de “The Killer” e, por isso, resolvi ver este filme: é considerado, por muitas pessoas, um dos melhores do director. Não são sequer parecidos. Nota-se que é o mesmo director, há um certo estilo e visual, e algumas opções de filmagem, que estão em ambos os filmes, mas falta-nos um bom roteiro, uma história convincente. A partir do meio, sensivelmente, a brutalidade e a sede de sangue do director perdem o freio: em minutos, assistimos na poltrona ao que só podemos classificar como um gratuito banho de sangue (falso, obviamente).
Gostaria de falar um pouco dos actores, mas senti que nenhum deles tem tempo, espaço e material para representar uma personagem como deve ser. Eles estão ali para ir matando ou morrendo, conforme as vontades e desejos do maquiavélico Woo, que abusa dos efeitos visuais, da brutalidade, da acção mais dura e desalmada que podemos ver na tela de um cinema. Carregado de efeitos gráficos que acompanham uma cinematografia digna de um videoclipe de rock industrial, o filme leva-nos de massacre em massacre e, antes do meio, já começamos a duvidar que exista elenco vivo. Em abono da verdade, e para sermos justos, o filme tem também a graça de ser bastante imersivo, seja pelo bom uso de efeitos sonoros, seja pela sua banda sonora magnificamente adequada, seja pelas filmagens rápidas e viscerais. Nós fazemos parte daquilo, estamos lá. E isso torna tudo ainda mais difícil de suportar, dependendo do quão insensível se consiga ser.
Em 19 Jul 2023