Autor: Filipe Manuel Neto
**Uma comédia esquecível e (para mim especialmente) difícil de compreender.**
Neste filme, a comédia situacional impera à medida que um trio de tresloucados vizinhos se junta para descobrir o que se passa com uma família chegada há pouco tempo e que ainda ninguém conhece, mas que destoa totalmente deles. Eles chegam ao ponto do ridículo, arrombando portas, entrando nas casas uns dos outros, remexendo bens e alvitrando as mais absurdas teorias acerca dos novos vizinhos. É um filme que está longe de ser para mim e não o achei engraçado, mas antes um pouco ofensivo. Mas isso deve-se mais ao facto de que não pertenço a essa cultura. Nunca vou compreender a mentalidade suburbana americana com relvados abertos, portas abertas, vizinhos que estranhamente se vêem apresentar à porta dos recém-chegados com presentes de boas-vindas e que parecem dispostos a, amistosamente, se imiscuir na vida uns dos outros sob a cobertura dos mais amistosos e bem-intencionados intentos.
Partindo desta premissa de natural diferença de culturas, eu olho para este filme com alguma incredulidade e por vezes choque. Uma comissão de boas vindas ao chegar a uma nova casa? Parece-me absurdo. Ter a preocupação de me apresentar aos meus novos vizinhos? Eu nunca o ia fazer na minha vida. Ver um vizinho invadir a minha casa ou a minha vida privada porque pensa que algo estranho se passa? Pobre coitado, assinou a sentença de morte dele. Para mim, situações como as deste filme, mesmo as mais simples, parecem-me inacreditáveis. Para mim, um relvado aberto é um convite a entrar, pelo que quanto mais alto for o muro e mais afiadas forem as farpas no topo dele, melhor. E um bom vizinho é aquele que menos problemas me der. Não me importo se não souber o nome dele ou ele não me der os bons dias, desde que ele fique no canto dele e me deixe em paz e em sossego no meu canto. É a minha cultura, é o mundo onde fui criado, e onde essa cultura de bairro não existe. Mas este filme é sobre tudo isso e mostra o sentido de comunidade que há nalguns bairros americanos, onde a hipocrisia anda de mãos dadas com a entreajuda, como se pode ver na forma como todos se preocupam com o desaparecimento de uma personagem mais idosa da mesma forma que antes ficavam furiosos quando a cachorra que ela tem ia fazer cocó no relvado alheio. Um sentimento de comunidade que cria padrões e faz com que todos sigam vidas semelhantes, ostracizando ou taxando como “estranhos” todos aqueles que optam por se colocar de fora, viver uma vida mais reservada ou simplesmente adoptar hábitos diferentes. O filme tresanda a sátira, de facto, e parece uma crítica dura a essa maneira de pensar, mas é uma crítica que não tem piada para mim.
Tom Hanks é o principal actor, e literalmente carrega o filme às costas na medida em que é o melhor e mais talentoso no elenco. De qualquer modo, as personagens são estereótipos ou apenas figuras de comédia pura. Não há profundidade ou algo elaborado, e o trabalho de cada actor é simplificado ao mínimo: dizer as falas, fazer rir e parecer engraçado. Ao lado de Hanks está um bom elenco de apoio, com figuras fortes da comédia como Rick Ducommun, Bruce Dern e Bruce Dern, além de uma Carrie Fisher mais contida mas muito eficaz. Todos fizeram um bom trabalho. O filme não é notável pelos aspectos técnicos ou valores de produção, mas os cenários e efeitos especiais funcionaram muito bem e ajudaram bastante no efeito cómico.
Para quem gosta de comédias tontas e personagens de papelão ou sem grande complexidade, apenas para passar tempo, este filme deve funcionar muito bem. Eu confesso que tive imensas dificuldades com este filme, senti o choque cultural e de mentalidades mas reconheço que não é um filme mau, embora seja totalmente esquecível.
Em 13 May 2020