Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme que merece ser mais acarinhado pelo público, e entendido pelo que é e não pelo que queríamos que ele fosse.**
Filmes familiares tentam agradar a toda a gente, é isso que os torna tão agradáveis de ver com a família (mesmo que as famílias não sejam como antigamente e reuniões familiares tenham perdido o sentido para a maioria). O problema é que, tentando agradar a todos, há sempre coisas que desagradam também, e penso que é isso que torna o filme pouco amado pelo público apesar de ter feito tudo bem e de nos dar um bom entretenimento. Cada um deveria pensar se isso é um problema do filme ou de quem o vê.
De facto, Nick Castle fez tudo certo. Não é um filme impressionante, não contou com um orçamento gigantesco ou grandes efeitos, é consideravelmente simples, mas funciona da maneira que foi concebido! A cinematografia é bastante boa, o trabalho de filmagem foi feito com profissionalismo e competência, a edição é muito bem feita e imprime ao filme um ritmo rápido que não deixa a trama adormecer em momentos mortos, a escolha dos locais de filmagem foi excelente e a concepção dos cenários e figurinos concorda com o que podemos ver nas bandas-desenhadas e material animado de “Dennis the Menace”, nos quais o filme se baseou. Até a banda sonora colabora bem, com uma melodia alegre que se enquadra perfeitamente no tom do filme.
No entanto, eu reconheço que o argumento escrito pode ter alguns problemas que deixam o público um pouco incomodado. A história de base é óptima e está muito bem escrita, mas a subtrama do ladrão perigoso pode incomodar um pouco, principalmente quando se têm crianças muito pequenas. Não é por acaso que o filme, no meu país, está classificado para maiores de seis anos, o que me parece perfeitamente adequado ao material em causa. No entanto, penso que esta é a única objecção que posso fazer, em consciência, ao material escrito, e isso nem sequer é um problema verdadeiramente sério.
O filme compensa estes pequenos problemas menores com um elenco sólido, que sabe o que faz e nos oferece um desempenho acima da média, mesmo considerando que falamos de um filme razoavelmente mediano, tanto nos valores de produção quanto na recepção e crítica que recebeu. A estrela do filme, o pequeno Mason Gamble, é bom o suficiente para nos dar uma interpretação crível e parecer adorável, mesmo quando faz as maiores asneiras que uma criança poderia fazer. Christopher Lloyd, que deu vida ao maior vilão, é profundamente eficaz a fazê-lo, ainda que possa parecer histriónico e exagerado: este actor é assim, ele está a vontade com personagens exageradas, não esqueçamos que ele se imortalizou com o cientista de “Back to the Future”, outra personagem que também era muito exagerada. Joan Plowright dá muito coração ao filme pela maneira comovente e ternurenta como interpretou a Sra. Wilson. Por seu turno, Amy Sakasitz, Paul Winfield, Robert Stanton e Lea Thompson são bastante eficazes em personagens de apoio. Porém, é Walter Matthau que rouba o palco só para ele quando aparece em cena. O veterano actor é um profissional notável e, mesmo com uma idade veneranda, continuou a ter uma boa expressão física e facial que lhe permitem dizer um discurso inteiro sem proferir uma só palavra. E, consciente da importância da personagem, o roteiro reservou ao actor uma boa parte das melhores falas e deixas do diálogo. É um trabalho notável.
Em 30 Mar 2025