Autor: Filipe Manuel Neto
**Uma reflexão sobre o sentido da vida.**
Embora por vezes nos apresentem filmes quase incompreensíveis e isso seja bastante desagradável, os Irmãos Cohen merecem o meu respeito pela maneira muito hábil com que sabem equilibrar-se, com um pé no cinema intelectual (que passa mais tempo em festivais do que nos cinemas) e outro no cinema comercial. Nesse caso, confesso que estava à espera de algo diferente, embora não saiba exactamente o quê.
O filme tem uma estrutura muito simples, mas eficaz, muito inspirada na história bíblica de Jó: Larry é um respeitado professor que lecciona numa escola judaica, é casado e tem dois filhos. Mas a sua vida rapidamente se transforma numa provação: a sua esposa tem um amante e pede o divórcio; os seus filhos só pensam neles e o mais novo usa drogas; o seu trabalho é posto em causa após um estudante insatisfeito lhe causar problemas... o dilema faz com que Larry recorra à sua fé e procure a resposta à pergunta simples: "Porque?". Os rabinos são unânimes: é uma resposta que quase nunca recebemos. O público entende a história, mas a mensagem subliminar é tão subtil que pode passar despercebida. O final, aberto e repentino, desagradou-me porque estava à espera de uma conclusão. Só mais tarde entendi que o fim do filme vem quando menos esperamos, tal como o fim da vida.
Religião e filosofia estão sempre presentes. No entanto, não é daqueles filmes onde precisamos de um doutoramento para o entender, embora seja complexo e tente provocar uma reflexão no expectador. Também está longe de ser uma apologia religiosa porque, como percebi logo, a religião é quase um elemento de humor. A ironia dos irmãos Cohen também não podia estar ausente. Além de todas as piadas em torno da religião, há duras críticas à sociedade. As personagens do filme parecem todas honestas e confiáveis mas isso, como o filme revela subtilmente, é uma ilusão. Cada um tem os seus pecados e segredos inconfessáveis, mas não deixam, por isso, de ser "sérios".
Em 24 Aug 2018