Autor: Filipe Manuel Neto
**Como deve ser o casamento, segundo os Evangélicos.**
Este filme conta como Caleb, um chefe de bombeiros, tentou salvar o seu casamento com Catherine através de um desafio de quarenta dias proposto pelo pai, que é um cristão evangélico. Trata-se, claro, de mais um "filme evangélico", de baixo orçamento e carregado de propaganda religiosa, que foi feito e propagandeado pelos membros destas igrejas norte-americanas, a fim de espalharem a sua mensagem religiosa e conseguirem mais conversões.
A história do filme é simples: um homem que salva vidas como bombeiro está perante o divórcio iminente após ter deixado de cuidar do seu casamento. A única solução é, por isso, converter-se num marido melhor, seguindo uma série de etapas que o levam não só a reconquistar a sua mulher como, também, a converter-se à fé evangélica. Tudo isto é ligado por uma série de relações causa-consequência, sem ter em conta que cada caso é um caso. Há imensos casais que não têm fé, vivem em grande pecado e são felizes nos seus casamentos, da mesma forma que há imensos casais que passam a vida nas igrejas e vivem vidas virtualmente artificiais. Ter fé, viver à luz de um padrão moral, não faz um casamento feliz a não ser que haja algo mais: amor e respeito. Isso, o filme opta por ignorar porque não convém à propaganda evangélica que se quer transmitir.
O filme quer dizer que ser um cristão evangélico pode transformar uma pessoa. Se você é bom, você é cristão. Se você é mau, você não é cristão. A religião traz até você os valores morais que você não terá de outra forma. Nada disto é verdade. Infelizmente, as igrejas estão cheias de pessoas desprezíveis, numa hipocrisia quase herética, na mesma medida em que estão cheias de boas pessoas. A fé não chega para mudar alguém, na medida em que ser religioso não significa viver toda a vida à luz do que prega uma religião. Na verdade, acredito que os padrões morais e familiares são mais facilmente vistos e aprendidos no coração da família de origem, observando os pais, do que num templo qualquer. A mensagem deste filme, parcial e propagandista, é no mínimo optimista e irrealista demais. É um insulto à inteligência de qualquer homem pensante e que não seja fanaticamente religioso.
De qualquer forma, as sugestões sobre como deve ser o casamento são interessantes e válidas para qualquer um, mesmo que se seja um ateu, se viva numa união de facto ou num casamento homossexual.
Quanto aos aspectos mais cinematográficos, há muito pouco a dizer. O desempenho dos actores é inócuo e passa despercebido, o drama meloso em torno do seu casamento é chato, previsível e digno de uma telenovela. Eu preciso dizer mais?
Em 07 Jul 2018