Autor: Filipe Manuel Neto
**Envolvente, profundamente dramático e cientificamente preciso, tem algumas falhas que são difíceis de perdoar.**
Este filme sci-fi espacial tem uma história interessante e apelativa: num futuro distópico, quase todo o planeta sofre de uma escassez crónica de alimentos, fruto de uma sobrepopulação do mundo, colheitas pobres, maus solos e dificuldades provocadas por pragas cerealíferas. Perante a urgência em alimentar a população e a incapacidade de o planeta conseguir gerar alimentos, a NASA, agora a trabalhar secretamente, cria um programa destinado a encontrar mais planetas com condições de habitabilidade, de modo a salvar a humanidade. Após um acontecimento muito misterioso na sua casa, o antigo astronauta Cooper descobre o projecto e é recrutado, apesar da oposição da sua filha Murph, devendo levar uma equipa para investigar três planetas muito distantes da Terra e apenas acessíveis através de um “buraco de verme” junto a Saturno.
Este é um filme que vale realmente a pena ver, apesar de o roteiro ser feito de erros e acertos e de o filme ter muitas situações confusas, que só parecem estar ao alcance da compreensão de quem tiver um doutoramento em Astrofísica. Muito mais do que um filme sci-fi, é um verdadeiro drama. Uma das coisas que mais me chamou a atenção, e que contribui para a carga dramática, foi o modo como cada personagem tem de sacrificar interesses pessoais em prol de algo maior, e de decidir entre o que querem e o que é necessário fazer para levar adiante a missão. Isto dá ao filme uma carga emocional nem sempre visível em sci-fi e que chegou a ser exagerada. Posso dar o exemplo daquelas trocas de mensagens entre a nave e o nosso planeta, e que apesar de serem úteis na tarefa de tornar as personagens mais humanas e agradáveis, são excessivamente melodramáticas. Também os diálogos por vezes soam artificiais, melodramáticos e cliché. Outra característica que me agradou no filme foi a preocupação com o rigor científico, sempre que foi possível (parabéns, Dr. Kip Thorne). Todavia, mesmo aqui há falhas, com os avanços e recuos espácio-temporais muito mal explicados e um final extremamente confuso. E claro, há falhas que já são usuais no cinema, como a maneira providencial como o protagonista vai “tropeçar” num projecto espacial secreto que não devia conhecer para se tornar no homem certo para a viagem. Há centenas de filmes com falhas parecidas.
O elenco é liderado por Matthew McConaughey, que já havia ganho um Óscar anteriormente e mostra todo o seu carisma e contracena maravilhosamente com as actrizes, particularmente a jovem MacKenzie Foy, muito doce no papel dela. Anne Hathaway também brilhou e esteve bem no papel dela. Igualmente impecáveis estiveram Michael Caine, David Gyasi e, particularmente, Jessica Chastain. Ellen Burstyn também teve tempo para um cameo interessante e honroso. Não gostei muito do trabalho de Matt Damon, penso que a personagem dele é unidimensional e muito pouco interessante. E não entendo o que raios está Casey Affleck a fazer neste filme.
Mas quem realmente merece um aplauso neste filme é o director/roteirista Chris Nolan, quanto mais não seja pela forma ambiciosa com que planeou o filme e pela determinação e empenho que lhe dedicou. Não há dúvida que ele soube tirar o melhor partido do elenco e, apesar de não ter feito um roteiro perfeito, criou uma história apelativa e que não põe a ciência de parte para entrar em devaneios ou delírios criativos. O filme é longo, o ritmo é lento e isso nem sempre se justifica, com o filme a despender muito tempo em cenas e sequências morosas, quase sem um som audível. Apesar disso, é dos filmes mais visualmente extraordinários que vi recentemente. A cinematografia aproveita o melhor da tecnologia CGI e cria cenas espaciais realistas, que foram habilmente complementadas por cenários reais e efeitos especiais tradicionais, que Nolan usou com mestria. A somar a tudo isto, temos excelentes efeitos sonoros e edição de som, a que se junta a extraordinária banda sonora de Hans Zimmer, talvez uma das melhores que o compositor já criou, com uma sonoridade profunda e rica.
Em 19 Dec 2020
Autor: Yuri Menezes
Filme atemporal? Temos!
Revisitei Interstellar e foi como reabrir um portal para um universo de emoções e reflexões.
Voltei a assistir após novas experiências de vida, novas camadas se revelam, aprofundando a compreensão da grandiosidade da obra de Christopher Nolan.
Uma história de ficção científica que se torna um hino ao amor.
Um filme para todos os tempos, que transcende o tempo e o espaço, e que certamente deixará uma marca profunda em quem o assistir.
Em 26 May 2024