Exorcistas do Vaticano

Autor: Filipe Manuel Neto

**Mais um filme de terror para adolescentes que não vai agradar a quem procura algo a sério.** Parece que a moda dos filmes de terror para adolescentes realmente fincou raízes. Não sou fã, até porque, para mim, ou o cinema de terror realmente assusta, incomoda, ou não merece ser chamado de terror. Porém, se a ideia dos produtores era criar um filme capaz de convencer os casalinhos de 15 anos a irem ao cinema na esperança de uns abraços malandros quando ela ficar com medo, ou na intenção de ver quem vai ficar com mais medo no grupinho, talvez eles tenham conseguido o que queriam. Para alguém como eu, que faz parte dos bastidores da Igreja Católica, e que conviveu durante anos com toda a sorte de sacerdotes, é um pouco difícil entender todo o “hype” em torno do exorcismo. Reconheço que é um daqueles rituais católicos que é desconhecido até mesmo dos católicos mais indefectíveis, mas isso deve-se ao estrito sigilo com que tudo é feito, e que visa acima de tudo proteger a pessoa visada pelo ritual. Os católicos informados sabem que é um tipo especial de ritual, que só se faz em circunstâncias específicas e com cautelas, mas não tem o glamour ou “show off” do cinema! É eficaz ao seu modo, e o exorcista não é um sacerdote conspícuo ou estranho. É, acima de tudo, um sacerdote treinado ao mais alto nível para o que tem em mãos (falo dos verdadeiros exorcistas católicos, e não de quaisquer imitações baratas). O filme, como acontece sempre no cinema, transforma um ritual religioso num espalhafatoso espectáculo que nada tem a ver com a realidade, mas que entretém bastante bem o público. Mark Neveldine não é um director que mereça ser levado a sério. Até agora, ele só tem dirigido filmes terrivelmente dúbios. O elenco conta com vários actores bons – Djimon Hounsou, Dougray Scott, Michael Peña – mas nenhum deles é utilizado de modo adequado. O material dado é pobre, as personagens são muito más e a narrativa construída é uma mera desculpa para o exorcismo. O uso das videocassetes é igualmente um cliché velho do terror, que nos vai lembrar vários filmes francamente melhores do que este.