Autor: Filipe Manuel Neto
**Este filme passou discretamente pelas salas de cinema e está um pouco esquecido, mas tem muita qualidade e merece ser visto com atenção.**
Quando pensamos em filmes clássicos e épicos de guerra ambientados na Segunda Guerra Mundial este filme não é, provavelmente, um dos primeiros a vir ao pensamento. De facto, ficou para trás quando comparado a outros da mesma época como "O Voo das Águias", por exemplo. Pessoalmente, não entendo a razão, gostei bastante mais deste filme do que de outros mais pesados e conceituados. No geral, parece-me um filme menos épico e presunçoso, apostado em contar uma boa história e dar-nos entretenimento de qualidade.
O centro de toda a acção é a Ponte de Remagen, ou Ponte Ludendorff, uma ponte que de facto existiu (e os seus vestígios ainda podem ser visitados, existe um pequeno museu nas torres da ponte), e que foi construída na Primeira Guerra Mundial para desabar dias após ser tomada pelos americanos, em 7 de Março de 1945, quando era a única ponte ainda de pé sobre o rio Reno, a última barreira natural digna desse nome que se interpunha entre os soldados aliados e Berlim. O roteiro faz muito bom uso deste pano de fundo e cria uma história muito bem pensada e que funciona, com todo o desespero dos alemães bem patente no comportamento dos seus oficiais, que não concordam acerca do que fazer, ignoram ordens, desrespeitam a hierarquia de comando, até se matam uns aos outros. Curiosamente, o filme não é simpático com os americanos, que são em parte retratados como hordas de cowboys aventureiros, saqueadores, difíceis de controlar até pelos próprios comandantes. Pelo meio, o efeito e prejuízo da guerra para os civis é bastante claro, com multidões que correm para todo o lado e vão invariavelmente morrendo enquanto tentam salvar as próprias vidas e alguns haveres.
O elenco fez um bom trabalho e tem vários nomes bem conhecidos, começando logo por George Segal, que fez uma personagem muito complexa, mas que é desagradável e bastante estúpida às vezes. Bradford Dillman também aparece, numa personagem muito mais palatável, assim como Ben Gazzara, Robert Vaughn, todavia, arrasou e brilhou no papel do comandante alemão, roubando para si todas as atenções sempre que aparecia em cena. A forma como ele deu corpo e alma à angústia dos defensores alemães foi incrível. Ao lado dele, o consagrado Hans Christian Blech, a dar vida a mais um nazi humano e mais compreensivo do que os companheiros de farda (ele fez mais ou menos a mesma coisa em "A Batalha das Ardenas", quatro anos antes). Sinceramente, não percebo o que Anna Gaël faz neste filme, para além de mostrar os peitos. A personagem dela podia ter sido pura e simplesmente dispensada.
Tecnicamente, é um filme bastante competente. Bons cenários e figurinos, uma fotografia satisfatória com algumas paisagens muito bonitas da ponte e boas cenas nocturnas. As cenas de acção e luta são intensas mas não sangrentas demais. Os efeitos especiais, visuais e de som cumpriram muito bem com o seu papel e parecem mesmo reais, em especial os rebentamentos na ponte e nas casas da cidade. A banda sonora, responsabilidade de Elmer Bernstein, fez muito bem o seu papel também.
Este filme passou discretamente pelos cinemas, não foi indicado a nada, não venceu nada. Surpreendente, mas assim foi. Merece, no entanto, ser revisitado e visto com mais atenção nos dias de hoje.
Em 23 Apr 2020