Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme excelente e cheio de méritos, que devia ser mais divulgado e conhecido.**
Este filme é um remake de um filme de mistério da década de Trinta. Não os vou comparar, na medida em que nunca vi o filme mais antigo (irei procurar por ele, todavia), mas podemos tecer uma breve comparação entre este filme, dos anos Cinquenta, e o seu remake mais jovem, *Casa de Cera*, lançado em 2005, e que vi por ocasião da visualização deste mesmo filme. Os dois filmes têm em comum o título original inglês e o tema, que são os museus de cera e as suas figuras e esculturas, mas tudo o resto é bastante diferente na medida em que o filme de 2005 é um filme de terror convencional, dentro daquilo que estamos habituados, ao passo que este filme se enquadra mais, na minha óptica, sob o ponto de vista do thriller de mistério.
O filme começa com um crime brutal, quando o ganancioso Matthew Burke incendeia o pequeno museu de cera que detém em sociedade com o idealista e perfeccionista escultor Henry Jarrod. Burke estava desejoso de obter lucro do seu investimento e queria que o museu fosse rentável enquanto Jarrod só se preocupava com a beleza das suas obras. A divisão dos sócios levou-os ao confronto e Burke não se coibiu de queimar o museu com Jarrod no interior, desmaiado, deixando-o para morrer, nem de receber a totalidade o dinheiro do seguro. O que ninguém esperava – excepto nós, o público, porque o filme é bastante previsível – é que Jarrod sobrevivesse ao inferno e regressasse, desejoso de vingança e cheio de ódio. Pouco depois, ele abre um novo museu, mas a semelhança das novas esculturas com pessoas reais, falecidas há pouco tempo, chama a atenção de Sue Allen, uma jovem que começa a pensar se as figuras de cera são apenas esculturas… ou se há algo mais escondido no interior.
O filme é um dos mais conhecidos da longa e interessante filmografia de Vincent Price, actor que se celebrizou pelos filmes de mistério e terror que fez neste período, e que ainda hoje é recordado com algum carinho. Ele foi excelente no papel de Jarrod, o seu primeiro papel de terror, e soou sempre de forma tão genuína que isso lhe abriu as portas para um novo estilo de filmes onde viria a brilhar. Phyllis Kirk é boa mas não tem carisma, Carolyn Jones fez uma participação numa personagem tão fútil e vazia que parece feita para morrer e Charles Bronson só precisa aparecer para fazer o que precisa.
Tecnicamente, é um filme que tem aspectos extraordinários que devemos mencionar. Para começar, foi um filme lançado em 3D quando isso ainda era raro e até primitivo. Hoje em dia isso é algo comum, mas na época deve ter sido revolucionário e inovador, e as multidões com certeza afluíram aos teatros para verem aquela novidade. Imagine-se o ambiente na sala e entre o público quando Reggie Rymal brincou com a bola e interagiu directamente com o público do teatro, falando com ele… Outra coisa que salta aos olhos é a qualidade do trabalho de caracterização e maquilhagem, especialmente no que diz respeito à personagem de Price, cujas queimaduras e aparência desfigurada parecem credíveis. A cinematografia é boa mas muito datada, o que se compreende mas pode afastar algumas pessoas. Por fim, uma palavra de louvor à elegante e consistente banda sonora, aos bons cenários e figurinos e, muito em especial, à excelente qualidade e beleza estética das figuras de cera usadas no filme.
Em 23 Aug 2020