Autor: Filipe Manuel Neto
**Um marco dos anos 80**
Não sou propriamente um fã dos filmes de luta, nem dos filmes de artes marciais. Geralmente, é um tipo de filme que evito, porque acho aborrecido e cansativo. Todavia, fiquei rendido a este filme, sendo seguramente um dos mais famosos dos anos 80, um filme que ainda hoje, passados trinta anos, sabe bem rever. Talvez por culpa disso, é um filme que ainda conserva o seu lugar na grelha dos canais de TV de cinema.
O roteiro é simples, mas bastante apelativo e cheio de personagens bem trabalhadas e dignas da nossa simpatia. O protagonista é Daniel, um jovem adolescente que acaba de se mudar para a Califórnia e está a tentar adaptar-se a um novo ambiente. Porém, ele rapidamente conquista a inimizade de um rapaz mais velho, mais endinheirado e mais violento, por culpa do interesse comum de ambos na mesma rapariga. Forçado a aprender ‘karaté’ para se defender, trava uma amizade com o porteiro do prédio onde trabalha, um idoso japonês que lhe ensinará tudo o que precisa de saber sobre a arte marcial.
Ralph Macchio é simpático e agradável na sua personagem, e faz um trabalho agradável, que lhe granjeará a fama. De facto, tornar-se-á no único grande papel da carreira do actor, que ainda hoje interpreta a mesma personagem em jogos de vídeo e séries. Elizabeth Shue, por sua vez, fez um uso mais inteligente do êxito relativo que conseguiu no seu papel deste filme. Apesar de não brilhar, ela cumpre bem com o que precisa de fazer e isso abriu-lhe portas para uma série de outros trabalhos. Mas é definitivamente Pat Morita quem rouba a nossa atenção sempre que está em cena. Ele é impecável no papel do inteligente e sensato japonês Através da personagem, o filme transmite-nos uma visão do ‘karaté’ pacifica, focada na defesa e na precisão de estar preparado para nunca ter realmente de lutar. O actor, de resto, foi indicado ao Óscar pela sua interpretação aqui. O filme conta ainda com as participações notáveis de William Zabka e Martin Kove.
Com uma cinematografia bonita e elegante, cores nítidas e um bom trabalho de filmagem, é um filme que não parece tão datado como outros filmes desta década. Gostei particularmente dos cenários da casa japonesa, com os seus jardins e magníficos detalhes de carpintaria, e dos carros clássicos de algumas cenas. As cenas de luta e de acção parecem bastante coreografadas, mas ainda são genuínas o suficiente para não ficarem mal. A banda sonora, assinada por Bill Conti, é verdadeiramente memorável e uma pequena pérola que, geralmente, passa ao lado, esquecida e ultrapassada por outras partituras mais conhecidas e consagradas.
Em 17 Jun 2022