Autor: Filipe Manuel Neto
**Uma relíquia do cinema que, apesar de ser relevante, envelheceu mal, está muito datada e tem muitos problemas de roteiro e duração excessiva.**
Este foi um dos grandes precursores dos modernos filmes de super-heróis, cheios de efeitos e CGI. No entanto, o que vemos aqui é obviamente muito mais primitivo e simples. O filme pega numa das personagens de banda-desenhada mais clássicas — o Super-Homem — e traz-nos uma visão bastante canónica das suas origens e percurso, desde a destruição do seu planeta natal e chegada à Terra até à sua consagração como herói mundial. Actualmente, todavia, é um filme algo esquecido e que envelheceu mal: continua a ter admiradores, a ser querido de quem o viu na juventude, mas tem dificuldades naturais para cair no gosto de novos públicos.
O roteiro aproveita a história oficial do herói e parece-me bastante fiel a essa narrativa, mas não consegue ir mais longe e dá-nos uma história artificial, forçada e cheia de clichés, em que mesmo o vilão é uma figura tão caricatural que não o conseguimos ver como uma ameaça. Apesar disso, e da excessiva duração quando pensamos na história contada, o filme acaba por ser uma boa peça de entretenimento, e mesmo os que não gostam dele são unânimes ao dar-lhe um lugar na lista de filmes marcantes na história do cinema, na memória colectiva e na cultura ‘pop’.
Uma das peças essenciais para o êxito do filme é a excelente performance de Christopher Reeve, actor que se imortalizou graças à capa deste herói, nos vários filmes em que o encarnou. Ele não é um actor imune a falhas, mas eu diria que boa parte dos problemas advém do material que ele foi recebendo e da maneira como Richard Donner concebeu o filme no geral, procurando dar-lhe um tom leve, como uma comédia de aventura histriónica e muito presunçosa. Também Margot Kidder fez um trabalho satisfatório. Menos sortudos, Gene Hackman e Marlon Brando têm a sorte de terem feito outros filmes muito melhores e onde os podemos ver em todo o seu talento: Hackman exagera de modo persistente e Brando quase não tem tempo de tela.
A nível técnico, o filme justifica o seu largo orçamento em efeitos visuais e especiais elaborados e muito vistosos, mas que para nós agora surgem como autênticas relíquias de museu, com um acentuado sabor a queijo, e totalmente inacreditáveis. A cinematografia, absolutamente sem qualquer contraste, aparece-nos enevoada. Os cenários vão do mais convencional até ao cúmulo do futurismo hospitalar, tão brancos e luzidios que parecem clínicas ultramodernas. A edição é relativamente boa, mas tal como eu disse, o filme arrasta-se muito e não justifica a duração. O melhor, realmente, é a boa banda-sonora, onde pontifica um extraordinário tema musical composto pelo “mestre” John Williams. Um filme do Super-Homem sem esta melodia, para mim, é inconcebível.
Em 30 Oct 2021