Feios, Sujos e Malvados

Autor: Filipe Manuel Neto

**Filosófico, brutal, uma denúncia na sua essência.** Este filme tragicómico gira em torno de uma família muito numerosa que vive numa barraca miserável perto de Roma. Quatro gerações da mesma família que fazem tudo (absolutamente tudo) no mesmo espaço, confinado e imundo, sem um laivo de salubridade ou privacidade. Até o sexo tem direito a plateia. Obviamente não é uma família normal, todos são algo loucos. O patriarca da casa é um homem repugnante, que ganhou uma pequena fortuna ao perder um olho num acidente de trabalho, a qual é ciosamente guardada por ele, longe das vistas (principalmente) dos seus familiares. Até ao dia em que ele leva uma prostituta de rua para morar com ele e dividir a cama com a sua própria mulher... Este é o tipo de filme grotesco que foi algo badalado no final dos anos setenta, e onde a comédia anda de mãos dadas com o denunciar de realidades incómodas... neste caso, as más condições de vida dos mais pobres entre os pobres, daqueles que vivem nos bairros de lata, que se foram formando à volta das grandes metrópoles europeias nesta época. É um filme sobre a ausência de humanidade, lado a lado com as grandes cidades, e que preferimos ignorar. Estas pessoas não vivem só como animais e no meio do lixo. Eles tornam-se o lixo humano de uma sociedade que é mais feia e mais cruel do que eles. Lá nasceram, viverão até morrerem, e os seus ossos se misturarem ao lixo onde viveram. Até as crianças acabam por ser alvo de uma perversão que as transforma e que as corrompe, como é exemplo a menininha pré-adolescente que surge no filme e que, no fim, já aparece grávida. Tudo isso é mostrado de modo cómico, mas o intuito é claro: despertar consciências. Interessante, filosófico mas tão triste quanto cómico, é um filme para se ver mas, principalmente, para pensar e fazer pensar.