Autor: Filipe Manuel Neto
**Visualmente grandioso mas presunçoso, com más actuações e um roteiro curto demais para tantas horas de filme.**
Como historiador, creio que Alexandre III da Macedónia (que conhecemos como Alexandre, o Grande) foi tão essencial para o curso da história humana que alcançou, por mérito, um lugar permanente na lista das dez personalidades que mudaram o mundo. Uma lista exclusiva e onde poderíamos incluir também Jesus Cristo, Júlio César, Gengis Khan, Albert Einstein, Hitler, Cleópatra, Shakespeare, Colombo, Vasco da Gama, Galileu, Darwin, Napoleão, George Washington ou Picasso... é impossível pensar como o mundo seria sem eles, não é?
Mas não estou aqui para falar sobre a personalidade histórica, apenas sobre o filme, um épico intenso que procura ser fiel aos factos conhecidos da vida deste rei conquistador, narcisista, megalomaníaco, homossexual e homem profundamente complexo. A história começa na batalha de Gaugamela (331 a.C.) e segue, com flasbacks até à infância, juventude e ascensão ao trono.
No geral, achei o filme interessante e agradável, apesar de não ser bom. O roteiro é historicamente preciso, pelo menos em geral. Claro que existem cenas exageradas ou adocicadas para fins dramáticos. O problema é que, mesmo assim, o roteiro que não justifica três horas e meia de duração. Teria sido melhor se o trabalho de pós-produção e edição tivesse removido cerca de 45 minutos. Outro problema que senti foi uma grandiosidade excessiva. Eu sei que é um filme épico, mas é possível ser épico sem ser presunçoso e o filme não foi capaz disso. Isso pode ser visto nas maneiras teatrais e afectadas dos actores, um bando de pavões a exibir plumas. Tal espírito heróico impregnou também a banda sonora de Vangelis, uma das piores que ele já fez. Ainda senti dificuldades com tantos flashbacks. Uma narrativa tão carregada de avanços e recuos parece um tango. Eles são úteis, ninguém duvida, mas às vezes levava muito tempo para eu perceber que eu estava a ver um flashback, e isso torna tudo mais cansativo.
O filme está cheio de grandes actores, mas nenhum deles brilhou por falta de um roteiro e director competentes. Colin Farrell era heróico e deveria ter mantido o cabelo escuro porque o verdadeiro Alexander nunca foi loiro. A maneira como o actor se comportou foi errática e os diálogos eram teatrais e cheios de frases pomposas. Angelina Jolie é um erro de casting, era jovem demais para a personagem e parecia sempre mais nova que o seu filho. Val Kilmer parece bem como Filipe, graças a uma grande dose de maquilhagem para o envelhecer e dotar de cicatrizes de guerra. Anthony Hopkins e Christopher Plummer estiveram bem mas não havia muito para eles aqui. Jared Leto esteve terrivelmente mal, e a sua personagem efeminada já era chata o bastante sem ele a tornar pior. Rosario Dawson, Jonathan Rhys Meyers, John Kavanagh e outros actores parecem bem o suficiente mas não tiveram brilho individual.
A nível técnico, o filme é impecável. O CGI é excelente e dá algumas cenas verdadeiramente bonita, como a vista da cidade da Babilónia ou as batalhas, espectaculares e cheias de acção, esteróides, adrenalina e espírito épico. A fotografia está carregada com cores amarelas e vermelhas, quentes e intensas, e isso às vezes cansa um pouco os olhos mas é lindo. Os trajes são detalhados e bem feitos. Oliver Stone trabalhou muito nesses pontos e teve sucesso, mas foi o mau roteiro, as más performances dos actores, a narrativa errática e uma presunção desagradável que derrotou o filme.
Em 01 Sep 2018