Autor: Filipe Manuel Neto
**Aquece, mas não levanta fervura.**
Este filme procura reconstruir a história de Robin Hood, enquadrando-a no contexto histórico real. Muito do conto ao qual estamos acostumados muda radicalmente, o que pode ser considerado positivo (um novo ponto de vista, uma nova perspectiva) ou negativo (constrói uma nova história mantendo quase as mesmas personagens). Ambas as opiniões são bem fundamentadas e válidas mas gostei da ideia de repensar a história. O cinema não pode ser baseado em eternas re-filmagens. Apesar disso, algumas das opções do roteiro eram muito arriscadas, para não dizer irrealistas. A ideia de um camponês, um soldado a pé, fingir ser cavaleiro, por muito boas razões que tivesse para o fazer, é totalmente inverosímil, apenas para dar um exemplo. Na mentalidade medieval, seria considerado insultuoso e Robin seria rapidamente punido. A associação de Robin à criação da Magna Carta também parece forçada. Por isso, apesar de eu reconhecer que o filme é interessante, devo admitir que o argumentista arriscou demasiado e o filme perdeu, em parte, com isso.
Russell Crowe fez um trabalho decente no papel de Robin, mas nunca pareceu realmente à vontade com a personagem. Ela exigia-lhe características de liderança, pedia-lhe que fosse um líder e tivesse presença. O actor parece não ter isso, ou não saber expressá-lo. É difícil não fazer comparações com o trabalho que fez em "Gladiador", também dirigido por Ridley Scott. Talvez a maneira como Scott pensou Robin não tenha sido a mais apropriada, tendo resultado num Robin tão calmo que se torna incaracterístico. Não o vemos como um homem de guerra, muito menos como um líder. Eu consigo imaginar mais facilmente Marion (Cate Blanchett) a liderar homens num combate. A carismática actriz britânica tem uma presença enorme e dá à personagem dela uma força própria. A única nota negativa da sua participação é a absoluta ausência de química com Crowe, com quem ela devia fazer par romântico.
Os aspectos técnicos do filme são bons. A fotografia está bem, é algo entre um "Gladiador" e um "Rei Artur". A banda sonora não traz nada de novo, faz a parte dela sem mérito ou desmérito, o que é triste para um filme que tenta ser épico, (é preciso lembrar a extraordinária banda sonora de "Gladiador"?). Os trajes e cenários seguem pelo mesmo caminho.
Em resumo, o filme é razoável, na medida em que não é grandioso nem memorável, mas ainda vale a pena vê-lo só por diversão, em família ou com amigos.
Em 28 Apr 2018