Autor: Filipe Manuel Neto
**Cansativo e desgastante, vale a pena pela qualidade do elenco e das interpretações.**
Este drama romântico é um daqueles filmes que nos deixa verdadeiramente sem saber o que escrever. Eu não penso que o filme é mau, ele tem bastantes qualidades, mas é cansativo porque nunca vai além dos conflitos e questões pendentes entre os dois casais protagonistas. É como se fosse uma discussão de relacionamento permanente.
O filme apresenta dois casais: de um lado temos a ex-stripper americana Alice e Daniel, redactor de obituários e escritor em potência; do outro temos a fotógrafa Anna e o médico Larry. Os dois casais conhecem-se, por casualidades diversas, e vão desenvolvendo relacionamento cruzados em que o conflito e a divergência são permanentes. É uma história complexa, em que os casais se vão trocando, separando, misturando, brigando. É uma história inteligente, muito bem escrita e com premissas excelentes, muito embora haja uma boa dose de inverosimilhança nisto tudo: de facto, eu não consigo conceber algo parecido a acontecer na vida real.
O melhor deste filme é a excelente performance dos quatro actores principais: Julia Roberts, Natalie Portman, Jude Law e Clive Owen. Não podemos dizer mal de nenhum deles, estiveram à altura do desafio que lhes foi colocado, incorporaram maravilhosamente as suas personagens e fizeram um trabalho verdadeiramente notável de interpretação dramática. São eles que fazem o filme valer realmente a pena. Claro, eles beneficiaram do bom material recebido e dos diálogos realmente bons que lhes foram dados. Acerca disto, uma nota de aviso: são diálogos que muitas vezes usam e abusam do calão pesado, e isso deve ser tido em consideração pelos públicos mais sensíveis e pelos jovens antes de verem o filme.
Tecnicamente, o filme tem altos e baixos… gostei bastante da cinematografia, de aspecto algo etéreo e líquido graças a um bom uso da cor e do contraste, dos ângulos de filmagem e da pouca luminosidade solar de Londres. A escolha dos locais de filmagem também me pareceu feliz, e a construção dos cenários e figurinos está dentro daquilo que eu esperava. Porém, Mike Nicolls falhou quando não conseguiu dar maior dinamismo ao filme, que é sempre morno, cozinhado lentamente, com um ritmo cansativo e modorrento, que entorpece o público. A banda sonora não ajuda a vencer a sensação de cansaço e torpor, com a escolha da canção *Blower’s Daughter*, na voz monocórdica de Damien Rice, a revelar-se particularmente infeliz.
Em 10 Oct 2021