Autor: Filipe Manuel Neto
**Apesar de ser uma melhoria face ao filme anterior, ainda tem um estilo de humor muito idiota.**
Quando vi o primeiro filme, eu considerei-o bastante rude, desinteressante, assente em diálogos intermináveis e enfadonhos. E eu confesso que não esperava nada melhor aqui. O filme, contudo, conseguiu surpreender-me e dar-me mais do que eu estava à espera.
A acção decorre cerca de dez anos depois do primeiro filme (o que está correcto, a sequela só surgiu dez anos depois do original) e mostra como Dante, a personagem central desta trama, saiu da sua odiada loja de conveniência para trabalhar num restaurante de fast-food. Ele continua pouco interessado no trabalho, e a detestar o lugar onde trabalha, mas está noivo de uma beldade loira que planeia levá-lo para a Flórida, onde o pai dela vai dar-lhes uma casa. No entanto, quem nasce fadado para ser Zé Ninguém não pode esperar muitos golpes de sorte e ele vai, num único dia, deitar tudo a perder. Claro, Randal, o seu velho companheiro, vai ter a sua parte de culpa no que vai acontecer.
Se o primeiro filme falhou por não ter roteiro, apenas uma sucessão de diálogos inteligentes, mas rudes e desinteressantes, este filme corrigiu essa falha e deu às personagens uma história decente. Contudo, decente não significa bom: apesar de isso ter sido um avanço, o filme tem um enorme subenredo romântico que parece ter sido escrito em cima dos joelhos, porque funciona bastante mal e não convence. Outro problema do filme é a qualidade da maioria das personagens envolvidas porque quase todas são esboçadas, unidimensionais, desinteressantes e algumas delas não passam de palhaços que nos atiram piadas e mais piadas dignas de uma caserna militar ou de um dormitório universitário.
Isto leva-nos a falar de humor! Pensado para ser o prato forte deste filme, a comédia baseia-se no humor escatológico, sexual e pouco higiénico. Piadas sobre falta de higiene num restaurante ou sobre bestialidade, ou outras diversas práticas sexuais, fluem livre e abundantemente como uma enxurrada num esgoto após uma intempérie. Há também referências a outros filmes (Senhor dos Anéis, Star Wars…), na maioria pouco elogiosas. Enfim! Este humor não é apenas rude, mas também estúpido.
Os actores do filme anterior (Brian O’Halloran, Jeff Anderson, Jason Mewes, Kevin Smith) voltaram para as personagens que já conhecem e para fazer novamente o que já tinham feito. A grande melhoria é, realmente, de O’Halloran, que mostrou um trabalho melhor e talento para fazer algo mais desafiador e competente. Mas é Rosario Dawson que merece maior atenção: a personagem dela é convincente, simpática e mais inteligente que as demais, sem deixar de ser engraçada quando quer (cérebro e humor combinam, tome nota, director Kevin Smith). Ben Affleck também aparece por aqui, num curto cameo desinteressante e esquecível. Lamentável verdadeiramente é a atuação de Trevor Fehrman… ele não foi um actor, ele não foi além da parvoíce mais patética.
Em 25 Mar 2023