Autor: Filipe Manuel Neto
**Apesar de não ser tão bom quanto o filme anterior, é um filme excelente mesmo assim.**
Não estou muito acostumado a filmes que tenham por tema personagens do universo da banda desenhada, mas a qualidade e o impacto que alguns têm tido torna-os visita obrigatória. Assim, e mesmo sem conhecer muito acerca das personagens ou das suas histórias ficcionais, decidi ver os filmes da franquia X-Men. Essa decisão foi seguida de alguma leitura acerca das personagens e dos filmes. Procurei seguir mais ou menos a sequência cronológica dos acontecimentos começando pelas prequelas.
Este filme dá seguimento aos acontecimentos do filme *Dias de um Futuro Esquecido* e coloca o mundo novamente na iminência de um apocalipse quando um mutante milenar acorda do seu sono e resolve tomar o mundo para si, e para um grupo de mutantes altamente talentosos que ele vai recrutar.
Dirigido por Bryan Singer, é um filme que não é tão bom como o anterior, muito embora tenha imensos pontos positivos. Criteriosamente editado, o filme tem um ritmo agradável e não tem momentos mortos mas perde-se bastante pelo roteiro mediano, que parte de uma boa ideia e não a consegue desenvolver da melhor forma. A ligação ao Antigo Egipto parece uma forma original e apelativa de introduzir a história. Inicialmente, pensei que soava um pouco forçada e deslocada, mas acabou por se encaixar e fazer sentido, além de nos ter permitido uma cena de abertura extraordinária, a mais impactante de toda a franquia X-Men até agora. O filme tem algumas cenas memoráveis, como o salvamento dos alunos da mansão enquanto esta explode ou o momento em que Magneto confronta a sua infância e arrasa o campo de concentração onde esteve preso, mas também tem sub-enredos românticos muito mal aproveitados e quase esquecidos em meio à acção, além de momentos cómicos sem muito interesse.
O elenco é massivamente herdado dos filmes anteriores e é composto por grandes actores, no entanto sente-se facilmente que há actores com muito pouco para fazer e que falta empenho e profundidade na construção das personagens (provavelmente por culpa do material dado ao elenco). O protagonismo cabe à dupla James McAvoy/Michael Fassbender e ambos os actores brilharam. Também Sophie Turner, que deu vida a Jean Grey, teve espaço e material para mostrar talento, e Evan Peters revelou verdadeiro carisma e brilho numa personagem cheia de personalidade. Hugh Jackman teve direito a uma brevíssima aparição que interliga este filme à história de vida pessoal da sua personagem. Oscar Isaac deu vida ao vilão, um mutante milenar super-poderoso apostado em arrasar a Humanidade, mas não gostei do que vi: é realmente um ser temível mas tem um modo de agir e falar tão afectados que parecem excessivamente artificiais e teatrais. Nicholas Hoult, Rose Byrne, Ben Hardy, Alexandra Shipp, Olivia Munn, Lana Condor, Kodi Smit-McPhee e Lucas Till também aparecem neste filme, mas não têm quase nada para fazer e os seus papéis são muito limitados. Também Jennifer Lawrence parece andar perdida e sem saber que rumo dar à sua personagem, agora que passou para o lado dos “bonzinhos”.
Além destes méritos, o filme tem excelentes valores de produção que importa salientar. É um filme da Marvel e há imensos milhões de dólares envolvidos, o que é bastante evidente desde o início. Visualmente é um espectáculo por si só, com uma cinematografia muito bem pensada e concebida, além de grandiosos efeitos visuais e o melhor CGI que o dinheiro podia comprar. As cenas e sequências de acção são grandiosas e os efeitos são um bónus. Tal como sucedeu quase sempre nesta franquia, o filme tem excelentes cenários e figurinos, muito embora deva aconselhar todos que as cenas relacionadas ao Antigo Egipto são totalmente criativas e não há realmente um esforço de rigor histórico. Creio que é justo saudar também o departamento de maquilhagem e a grandiosa banda sonora de John Ottman.
Em 17 Oct 2020