Autor: Filipe Manuel Neto
**Entre as homenagens ao "swashbuckling" e o desastre dos aspectos técnicos, este filme cómico e leve consegue entreter-nos o bastante para não nos decepcionar.**
Este é um daqueles filmes que quase toda a gente que nasceu nos anos Oitenta já viu diversas vezes. Eu mesmo o vi, na televisão, muito embora o tenha decidido rever agora por já não ter a memória bem fresca. O que encontrei é surpreendentemente pior do que eu esperava, mas não me deixou totalmente desiludido.
A história é baseada num livro e é bastante voltada ao público jovem: um avô decide ler para o seu neto doente uma história de contos-de-fadas, relatando o amor ideal entre uma camponesa órfã transformada em princesa e o seu companheiro de juventude, que se torna num pirata para recolher dinheiro suficiente para o casamento deles. Para ficarem juntos, terão de derrotar um rei local que está determinado a casar com ela, para depois a matar e levar o seu país para uma guerra com o reino vizinho.
O enredo soa confuso? De facto, eu também o considerei assim, mas se ignorarmos as pontas soltas, acaba por funcionar por ser divertido e nos entreter perfeitamente. Ambientado algures na época medieval, num lugar que também é fictício, conta, porém, com algumas anacronias: a personagem Inigo Montoya, por exemplo, é um espanhol que devia ser castelhano ou aragonês, posto que a Espanha, como país, surge já depois da Idade Média. E apesar de a pirataria e o uso da espada serem praticamente intemporais, as armas usadas no filme são do século XVII, que foi a era de ouro da pirataria por excelência. Detalhes que, porém, não levei muito em conta por o filme ser de fantasia e não um filme histórico.
O elenco é encabeçado por Cary Elwes e Robin Wright. Ambos são o arquétipo do herói de acção e da donzela em perigo: esbeltos, elegantes, invariavelmente loiros e de olhos azuis, ele cheio de personalidade e fanfarrão, ela insossa. Os actores podem ser bons e tiveram outros projectos para o provar, mas aqui não têm realmente nada de particularmente marcante para fazer. Mais interessante, a performance de Mandy Patinkin está cheia de carisma e estereótipos latinos, mas eu diria ser estranhamente parecida ao que Banderas viria a fazer, anos depois, no filme *A Máscara de Zorro*. Será que o actor se inspirou no trabalho de Patinkin? Andre The Giant e Billy Crystal também merecem aplausos pelo seu trabalho, com Crystal a personificar momentos de pura comédia. Chris Sarandon deu vida ao vilão de uma maneira convencional, mas colaborou muito bem com Christopher Guest.
Tecnicamente, é um filme esquecível, que nos relembra permanentemente que não o devemos levar muito a sério: apesar de ter tido um orçamento razoável, parece barato e descuidado. Os cenários dificilmente poderiam ser mais artificiais, os efeitos de som são primitivos (mesmo para os padrões da época, que nos deu filmes tecnicamente superiores), a edição é desinteressante e a cinematografia é feia, com cores lavadas e contraste muito baixo. A banda sonora, então, é verdadeiramente desastrosa, uma das piores que ouvi. De todos estes problemas, ressalva-se a escolha de alguns locais de filmagem elegantes e visualmente bonitos, bons adereços, um bom trabalho de maquilhagem e um guarda-roupa muito bem feito e detalhado.
Em 04 Jul 2021