Autor: Filipe Manuel Neto
**É bom, mas é complexo e convém estar atento à história.**
Foi com agrado que vi mais este filme da franquia cinematográfica “Capitão América”. É uma franquia que tem dado origem a filmes cada vez mais extraordinários e visualmente ambiciosos. A ligação ao filme anterior, *Soldado do Inverno*, está bem presente, mas confesso que fiquei com a sensação de que teria sido melhor ver primeiro os filmes da franquia “Vingadores” para entender o filme e a mecânica relacional das personagens. Relembro, como disse noutras resenhas, que o mundo da banda desenhada é um dédalo que não domino de todo.
A trama do filme gira em torno de uma situação de tensão: após terem feito vítimas e estragos materiais nas suas operações (finalmente, alguém percebeu isso), os Vingadores foram castigados: ou se sujeitavam à fiscalização da ONU ou eram considerados fora-da-lei. Ao passo que o líder, Stark, aceita as imposições, Rogers encara-as como uma limitação injusta e aposta em seguir o seu caminho, ainda que entrando em ruptura com os colegas e, especialmente, com Stark. Ao mesmo tempo, desenvolve-se uma subtrama em torno de Bucky Barnes, amigo de infância de Rogers, e do seu passado misterioso.
O roteiro é complexo e está cheio de detalhes, subenredos e ‘nuances’ que podem escapar ao nosso olhar se não estivermos atentos ou não conhecermos razoavelmente o universo Marvel. Senti que, por vezes, o desenvolvimento do roteiro não sabia bem que rumo seguir ou que ideias desenvolver, e que várias personagens aparecem porque tinham mesmo de estar lá, nem que fosse por um par de minutos. O núcleo central de personagens recebe, todavia, um tratamento muito bom e tem tempo para se desenvolver. Achei um pouco estranho ver o Homem-Aranha no meio desta gente toda. Parece um pouco fora de lugar. E num filme tão carregado de bons e grandes heróis, eu senti a falta de um vilão verdadeiramente carismático que equilibrasse um pouco as coisas.
O elenco é um verdadeiro ninho de estrelas: é enorme e está cheio de nomes notáveis. Claro, o protagonista é Chris Evans, como Capitão América. Ele já está totalmente ambientado com esta personagem e sabe perfeitamente o que fazer, e faz o seu trabalho de modo impecável. Robert Downey Jr. é o eterno Tony Stark, uma personagem que ele nasceu para fazer e que faz de uma forma excepcional. Scarlett Johansson e Sebastian Stan continuam a ser excelentes, como eram já nos filmes anteriores. Paul Bettany pareceu-me estranhamente robótico até eu compreender que ele estava, realmente, a interpretar um andróide. Chadwick Boseman foi excelente, sério e muito concentrado. Elizabeth Olsen esteve bem, mas não brilhante, e o mesmo se pode dizer de Emily VanCamp, numa performance relativamente branda. Anthony Mackie apareceu pouco e Don Cheadle limitou-se a fazer o que realmente tinha de fazer.
Tecnicamente, é um filme digno da Marvel e da qualidade a que nos habituou: é um espectáculo visual extraordinário e cheio de estilo, onde cada detalhe foi pensado de modo meticuloso para aumentar a experiência visual e auditiva do público. A cinematografia é grandiosa e o trabalho de filmagem foi maravilhosamente conseguido. Os efeitos visuais, especiais e o trabalho de CGI acrescentam brilho, poder e profundidade visual. O trabalho de edição foi muito bem feito, com cortes precisos e grande equilíbrio. As cenas de acção, especialmente a do aeroporto, são boas e vão saciar o apetite dos fãs da Marvel. Os cenários e figurinos também foram muito bem feitos e parecem autênticos. A banda sonora é bastante boa, mas não senti que fosse algo que ficasse realmente no ouvido.
Em 13 Mar 2021