Autor: Filipe Manuel Neto
**Apesar das falhas, e de algumas interpretações menos positivas, é um bom filme.**
Tim Burton já nos habituou a um estilo surreal e fantástico, e quase sempre nos dá filmes muito bons. Este filme não é excepção, dando-nos bom entretenimento. Baseia-se num livro, que eu nunca li nem sei como é, embora já tenha ouvido dizer que é francamente mais interessante do que este filme. Porém, Tim Burton já mostrou que não se importa muito com isso, em trabalhos anteriores que temos visto.
O roteiro é surreal e fantástico, baseando-se na viagem de um adolescente às Ilhas Britânicas, para conhecer o lugar de origem do seu avô, recentemente falecido. Lá, ele descobre as ruínas do orfanato onde o avô cresceu, destruído por um bombardeamento alemão e nunca reerguido. E mais tarde descobre que os amigos de infância e a preceptora do orfanato ainda estão vivos e a viver num ‘loop’ temporal criado no dia em que a casa foi arrasada. E que existe um perigo que os vai ameaçar a todos.
Em geral, o filme é bastante satisfatório, entretém bastante bem e tem uma história bonita e bem escrita. Isso deve-se, em boa parte, à forma como vai abordando temas difíceis como o luto e a relação familiar entre um pai e um filho. Há alguns detalhes pouco explicados, pontas soltas, situações que não recebem a atenção que poderiam ter recebido, e eu achei que o filme demora um pouco a “engrenar” e a captar realmente o nosso interesse.
De entre o elenco deste filme, ninguém se destaca como a impecável Eva Green. A actriz tem o que é preciso para a personagem que lhe coube, e sabe aproveitar muito bem o seu carisma e a boa qualidade do material que lhe foi dado pelo argumentista. Terence Stamp também esteve em boa forma e fez um bom trabalho. De entre os actores mais jovens, é Ella Purnell quem mais se destaca pela positiva, ainda que Finlay MacMillan e Lauren McCrostie também nos ofereçam desempenhos bastante satisfatórios. Infelizmente, no tocante ao elenco, os restantes não conseguem atingir uma apresentação tão boa: Judi Dench, Rupert Everett e Chris O’Dowd não têm personagens nem tempo de tela que lhes permita fazer algo realmente interessante. Apesar de ter conseguido alguns bons momentos, Samuel L. Jackson parece um peixe fora de água neste trabalho. Mas quem realmente merece um apupo é Asa Butterfield. Foi uma má opção, um erro de audição. O actor não tem carisma, não tem capacidade para lidar com o protagonista, e não teve, também, muita sorte com o material que recebeu (e aqui, a culpa é do argumentista e da forma como concebeu e trabalhou a personagem dele). Longe de captar a atenção e de prender o nosso interesse, o actor apaga-se diante de qualquer um dos colegas de cena.
Outro dos pontos fortes deste filme são os efeitos visuais e o excelente CGI utilizado. A casa, por exemplo, não podia ser mais realista, e os esqueletos e o navio também ficaram muito bem na tela. A cinematografia foi muito bem trabalhada, a câmara faz um bom trabalho, os cenários e, especialmente, os figurinos e penteados são excelentes e transportam-nos automaticamente para os anos 40. Gostei bastante de alguns dos lugares em que o filme foi feito, destacando-se em particular uma famosa mansão belga, perto de Antuérpia, arruinada desde a Segunda Guerra e que foi demolida pouco depois de este filme ter sido lançado. A banda sonora faz um trabalho eficaz, mas não nos traz surpresas.
Em 23 Dec 2022
