Autor: Filipe Manuel Neto
**Realmente um bom filme, que justifica o falatório em torno dele.**
Quem não se lembra de “La La Land”? Foi em 2016 que saiu para os teatros, e foi um dos mais vistos e aclamados filmes desse ano. Foi um filme que foi virtualmente levado ao colo por entre os festivais e prémios da sétima arte, e que parecia destinado a limpá-los a todos, como “Titanic” havia feito duas décadas antes. Quando chegou aos Óscares, tinha praticamente nomeações em quase todas as categorias onde o puderam incluir! Das catorze nomeações, todavia, arrecadou “apenas” seis estatuetas, com a sétima – Melhor Filme – a escapar por entre os dedos naquele que foi o mais absoluto vexame de toda a história da Academia de Hollywood: a famigerada, mas histórica, troca dos envelopes que todos temos bem patente na memória. Mas quando eu disse “apenas”, é preciso relativizar as coisas: o que muitos produtores não teriam dado para ganhar seis óscares num filme deles! Goste-se ou não, foi um grande feito e “La La Land” recebeu uma merecida consagração nessa noite.
O filme, dirigido pelo novato Damien Chazelle, é uma homenagem bastante digna aos musicais da era dourada de Hollywood, e conta com um roteiro geralmente simpático: uma aspirante ao estrelato que tenta tornar-se actriz conhece e apaixona-se por um pianista ‘jazz’ purista que quer restaurar o interesse das pessoas pelo género musical que adora, e que sente estar a perder-se lentamente. É a paixão mútua que os faz não desistir dos seus respectivos sonhos, mas também acabará por ditar que ambos sigam caminhos próprios. E realmente, o fim do filme, agridoce e um pouco realista demais, embate chocantemente com a magia sentida ao longo de todo o resto do filme. É como ter um sonho muito bonito, onde tudo é possível com algum esforço e trabalho sério, e acabar por ver esse sonho atropelado por uma realidade pesada, crua e frequentemente injusta. E é preciso dizer, apesar de as personagens parecerem simpáticas, elas são egoístas e só pensam em si mesmas e nos seus interesses. Parece que ficam juntos apenas enquanto isso for realmente benéfico para os interesses individuais que nutrem.
Apesar de eu não gostar muito das personagens, Emma Stone e Ryan Gosling oferecem-nos, no filme, dois trabalhos magníficos de interpretação e também de canto e dança. Gosling mostrou talentos escondidos ao teclado de um piano, e ambos são muito bons nas coreografias, ainda que o canto não seja particularmente o ponto forte de nenhum dos dois. Ambos são jovens, e é bastante possível que venham a dar-nos desempenhos dramáticos ainda melhores no futuro. O resto do elenco do filme praticamente não interessa, é um daqueles filmes onde as personagens principais são tão esmagadoras e omnipresentes que não há espaço para mais ninguém.
Tecnicamente, o filme tem vários aspectos francamente bons que merecem a nossa atenção e o nosso louvor. Para começar, a forma honesta e inteligente como o filme recria e insere cenas e rotinas de dança dos grandes musicais do passado, de “Shall We Dance” a “Serenata à Chuva” e “West Side Story”. Os cenários, os elementos, as rotinas estão lá. A cinematografia, colorida, franca, generosa na luz, é magnífica e um festim para o olhar. A edição foi feita de modo exímio e muito hábil. Os cenários não podiam ser melhores, aproveitando as colinas de Hollywood ou o Observatório Griffith da melhor forma. A banda sonora, as melodias e canções são excelentes.
Em 03 Feb 2023