Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme agradável, elegante, mas muito mal feito e com problemas graves.**
Os filmes clássicos ingleses de fundo histórico são verdadeiramente agradáveis. Geralmente, são feitos com algum respeito pelo assunto tratado, ainda que existam falhas, por vezes até difíceis de perdoar. Este filme, no geral, é uma boa peça de entretenimento, mas se o leitor pensa que irá aprender alguma coisa de história vendo este filme, é melhor pegar num livro: o filme não é particularmente detalhado e aborda o tema de maneira superficial.
O filme começa por nos revelar o panorama geral de uma Inglaterra à beira do colapso: um rei fortemente impopular, uma rainha católica (e que é odiada por isso mesmo), rebeliões activas na Escócia e na Irlanda, um exército depauperado e desmoralizado, os cofres do erário público vazios, o povo sobrecarregado e um grande grupo de radicais protestantes – os Puritanos – que aproveita todas as oportunidades para criticar activamente o rei e o governo. Enquanto o rei vai tentando solucionar os problemas à medida que aparecem, e sempre apoiado em conselheiros absolutamente convictos da natureza indiscutível e origem divina do poder real, o filme vai-nos revelar a figura de um inicialmente moderado Oliver Cromwell, que se deixa radicalizar pelos acontecimentos e pregações que vai ouvindo.
O filme tem um roteiro mau, de Ken Hughes, o qual também é director: abordando tudo de maneira superficial e abreviada, o esforço de Hughes foi infeliz e resultou num filme que não é o que se podia estar à espera: apesar de Oliver Cromwell ser um dos protagonistas da história, o filme não é sobre ele nem o seu papel enquanto Lorde Protector, mas tão-somente da espécie invulgar de rivalidade política entre ele e o rei Carlos I. O título está, portanto, mal escolhido e induz em erro o espectador. A construção das personagens também sofreu com isto: Carlos I foi a personagem mais bem desenvolvida, em contradição com o título do filme.
O elenco conta com uma série de grandes actores britânicos, mas a verdade é que nem todos se saem bem. A culpa é, novamente, de Hughes, que não os soube dirigir e não foi capaz de lhes dar material decente para trabalhar. O destaque vai para a boa interpretação de Alec Guinness, que faz uma boa omelete com os poucos ovos que recebe e nos dá uma visão aristocrática e fleumática de Carlos I, discordante da imagem que nos perpassa nos livros de história. Richard Harris foi decente o bastante no papel de Cromwell, mas é uma sombra de si mesmo quando se pensa em outros trabalhos do mesmo actor. Robert Morley e Timothy Dalton asseguram duas das mais notáveis personagens secundárias, mas os seus esforços são irrelevantes, sendo que Dalton era particularmente irritante.
Tecnicamente, o filme parece apostar tudo nos cenários e figurinos de época, e que realmente ficam muito bem na tela e são bastante detalhados. Foi com isto que Ken Hughes realmente se preocupou? Parece que sim. A cinematografia contribui para a elegância visual do filme, torna o filme bastante agradável aos olhos. As cenas de batalha são poucas, e nunca percebemos bem quais são as batalhas que são travadas ali (exceptuando Naseby, que é mencionada mais claramente) e o filme transmite a ideia de uma guerra civil de tabuleiro, entre um copo de xerez e uma missa, o que não foi verdade. A banda sonora é enfadonha e desinteressante.
Em 21 May 2021