Autor: Filipe Manuel Neto
**Estes magníficos são politicamente correctos, historicamente imprecisos, mas ainda assim muito mais divertidos do que qualquer sequela ao primeiro filme.**
“Os Sete Magníficos” – o filme original – era um remake de uma produção japonesa, e acabou por ser seguido de uma sucessão, escusada e bastante pobre, de sequelas. Para a posteridade ficou só o original japonês e o primitivo filme norte-americano, que é um clássico por direito próprio. O que temos aqui acaba por ser um remake do remake, e apesar dos muitos méritos, não nos faz esquecer o primeiro amor.
O filme tem dois grandes pontos a seu favor: a produção, luxuosa e detalhista, e a qualidade do elenco envolvido. O roteiro apresenta a mesma história que já conhecemos, mas estruturada de modo diferente e com outro tipo de intervenientes, além de ser totalmente nos EUA, e não no México. Isso foi outro ponto a favor, na medida em que a história do primeiro filme havia já sido virtualmente copiada, mastigada e desmantelada pelas sequelas que foram feitas depois.
Gostei do trabalho de Denzel Washington, um actor impecável e perfeitamente a vontade com filmes de acção. Ethan Hawke dá-lhe um apoio muito bom e faz também um trabalho a solo de qualidade. Haley Bennett também está excelente. Chris Pratt, Vincent d’Onofrio, Lee Byung-Hun e todos os outros ajudam, mas não captam o nosso interesse nem se mostram realmente notáveis. Peter Sarsgaard, o vilão, fez um bom trabalho considerando as fraquezas do material recebido: a personagem aparece pouco, quase não tem nada para fazer e, no final, dentro da igreja, tem um comportado que não condiz com nada do que tinha acontecido até aí.
Tecnicamente, o filme apresenta uma enorme quantidade de acção carregada de efeitos e CGI de grande qualidade. Antoine Fuqua soube compreender como deveria ser o filme, honrando o seu predecessor sem, todavia, o copiar. O filme tem excelentes efeitos, bons figurinos e bons cenários. A produção caprichou nos detalhes de época, o que não impede algumas anacronias menores, o que não foi um problema substancial. As cenas de acção foram bem executadas e o filme vai, seguramente, agradar aos fãs do género, e a banda sonora tem um certo sabor épico que fica bem e se harmoniza bem com o tema musical (já histórico) do filme, que foi regravado para a nova produção.
Tudo isto são qualidades, e falhas menores. Onde eu realmente sinto que o filme falhou foi na escolha de alguns actores. Após as polémicas recentes na indústria (que envolveram não só as infames acusações de assédio, mas também a discriminação de profissionais com base na cor ou etnia), houve um esforço de contrariar a má publicidade com a colocação de actores negros, nativo-americanos ou latinos em toda a sorte de personagens. Não sou contra isso, mas creio que há personagens mais adequadas para isso do que outras, e duvido, por exemplo, que um nativo-americano emparceirasse bem com um grupo de pistoleiros maioritariamente branco nos finais do século XIX. Por muito que o politicamente correcto seja apaziguado, é uma ideia que vai contra a verosimilhança histórica. Outro problema deste filme são as tentativas para se introduzir humor, nas situações e nos diálogos: são tão más e tão trôpegas que era melhor que as tivessem removido da versão final.
Em 10 Apr 2023