Autor: Filipe Manuel Neto
**O filme que explica o essencial acerca de Deus, no ponto de vista da generalidade dos cristãos.**
Todos os filmes têm o seu público-alvo. Não há filmes pensados para agradar a todos, mesmo os mais generalistas. Este filme é, na sua essência, cristão. Por isso, não vai agradar a ateus ou à vasta maioria de não-cristãos, e não me parece ter sido pensado para converter ateus ou outras pessoas a uma crença ou religião. É um filme cristão, sim, mas dirigido a quem, pelo menos, acredita em Deus e em Jesus como Seu Filho. E é assim que eu penso que este filme deve ser analisado, se quisermos ser justos e rigorosos. Claro, eu sou cristão (sou católico romano na verdade) e vou à missa aos Domingos. A minha visão deste filme não será a mesma de um cristão que não pratica a sua fé em colectivo, ou de um judeu, ou de uma pessoa que acredita em Deus mas tem uma visão mais gnóstica, ou uma visão mais abstracta d'Ele. Por isso, vou falar só na minha perspectiva.
O roteiro é bastante bom: Mack foi o responsável pela morte do seu pai violento e alcoólico; depois, já casado e pai de filhos, tem a sua filha mais nova raptada, aparentemente violada e morta por um molestador de crianças. Nem o corpo foi encontrado. Por tudo isto, Mack culpa Deus, acusando-O, e afunda-se na própria dor. Um tempo depois, recebe um bilhete misterioso, assinado por "papá" (como ele chamava a Deus), pedindo-lhe para o encontrar na casa onde tudo aconteceu.
Para começar, o filme faz um excelente aproveitamento do texto e das simbologias presentes na Bíblia sem, todavia, se colar demais ao texto sagrado. Uma coisa que eu observei, ao assistir a este filme com a minha namorada, foi que Deus é verdadeiramente explicado e o filme responde a imensas questões e dúvidas sobre Deus e a forma como Ele age. Outra coisa que é explicada é que Deus não é o causador do mal. As pessoas é que escolhem o mal, e Deus respeita as escolhas feitas. Deus também não se apresenta numa só forma, pode assumir o rosto que quer e revela-se na forma das suas três pessoas distintas: o Pai, Jesus e o Espírito Santo, encarnados em pessoas de ambos os sexos e diferentes etnias, simbolizando quão universal é Deus: Deus é Deus de tudo e todos, e ama até aqueles que não acreditam Nele. O que acontece neste filme é todo um processo em que Deus age visivelmente na vida de uma pessoa... é aquilo que nós chamamos de milagre.
Confesso que gostei mais de ver Sam Worthington neste filme do que noutros que ele fez, como os filmes "Titãs", que protagonizou. Penso que aqui ele teve mais espaço para mostrar talento, dado que a maioria do filme é assente em diálogos entre a personagem dele e outras personagens. Octavia Spencer e Graham Greene deram corpo a Deus Pai de uma forma magistral. O israelita Avraham Aviv Alush e a japonesa Sumire foram igualmente bons a dar vida às duas outras pessoas da Trindade. Como disse em cima, a escolha de homens e mulheres de diferentes etnias para dar corpo a Deus foi intencional e provavelmente mostra que Deus abrange todos... não creio que tenha sido uma escolha baseada no politicamente correcto como já li algures. Enfim, o filme não é um show de interpretação dramática, mas tem os seus momentos e um elenco empenhado.
Não sou fã de filmes cristãos ou de temática espiritualista, mas devo reconhecer que este filme tem qualidade. Em nenhum momento senti que estivesse a ouvir um sermão dominical ou o filme tentasse pregar o que quer que fosse. Não é um filme feito para converter nem foi feito para descrentes, mas também se sujeita a ser amado ou odiado, ao invés de compreendido. Mas isso é o preço a pagar por pegar num tema tão delicado.
Em 26 Mar 2020