Autor: Filipe Manuel Neto
**Se muitas vezes achamos que um filme não precisa de ter sequelas, este caso é o oposto: este filme devia ter sido pensado como o começo de uma franquia de vários filmes.**
Até onde consegui perceber, após alguma leitura, este trabalho de cinema baseou-se numa obra de Stephen King, composta por uma longa série de livros. Estou seguro de que o material de origem é bom, King é um dos melhores e mais geniais escritores fantásticos do nosso tempo e a sua vasta obra literária já deu filmes surpreendentes e marcantes. O que eu questiono é a forma como foi feita essa adaptação: o que são oito livros convertidos num filme de duas horas? Provavelmente, só aproveitaram um punhado de personagens e locais e deitaram tudo o resto para o lixo. Obras destas só podem ser adaptadas sob a forma de trilogias, tetralogias ou, no mercado televisivo, como séries. De outro modo, o material original não é devidamente explorado na sua riqueza.
Independentemente destas questões, o filme é moderadamente bom: tudo começa quando o jovem protagonista, assombrado por visões que tem, encontra um portal para um mundo que desconhece, o mundo das suas visões, e encontra um Pistoleiro que o vai ajudar. Ele, no fundo, já sabe o essencial: o equilíbrio universal está em perigo porque um feiticeiro mau quer deitar abaixo a grandiosa Torre Negra que, no centro de todas as coisas, harmoniza esse equilíbrio e as energias cósmicas. Estou a explicar de modo simples e por palavras minhas. Agora, a tarefa dos dois heróis e impedir que isso aconteça.
O melhor deste filme é realmente a sensação de aventura, de risco, a acção quase permanente e a forma como tudo se desenrola rapidamente, sem grandes momentos mortos. Como filme de entretenimento, é muito bom, e se nos esquecermos que é a pior adaptação de King já feita para o cinema podemos, realmente, passar um bom tempo a ver isto. O grande problema aqui é a forma como tudo parece ter sido apressado, com o filme a tentar fazer muita coisa sem ter de chegar às duas horas e meia de duração.
A qualidade do elenco é outro trunfo que faz o filme funcionar razoavelmente. Nenhum dos actores é espantoso, não há grandes actuações, mas o que foi feito é suficiente para alavancar o filme no caminho certo: Idris Elba é carismático e simpático sem deixar de ser temível, algo que a personagem dele exigia e a que o actor soube adaptar-se. Tom Taylor também fez um bom trabalho no papel do jovem herói, um papel onde teria sido muito fácil cometer erros, ser superficial ou canastrão. O vilão caiu na pele de Matthew McConaughey e, apesar de ser adequadamente sombrio, não é realmente uma ameaça palpável.
Tecnicamente, o filme aposta muito no CGI e nos efeitos. O filme pedia isso, dado o enredo e o tema sci-fi. O CGI e os efeitos são bons e funcionam bem, maioritariamente, embora haja uma série de opções e soluções que eu consideraria discutíveis. Por exemplo, o filme nunca explora – nem tem tempo para isso – as ligações entre universos paralelos, e a forma como há tantas pessoas no nosso mundo que sabem disso. O filme teria ganho em qualidade se tivesse tido uma hora adicional, ou se tivesse sido pensado como um começo de uma franquia mais ampla, com várias sequelas. A cinematografia é muito boa, o trabalho de filmagem funciona, tem bons cenários, bons figurinos e excelentes cenas de acção. A banda sonora, confesso, não convence, mas trabalha de modo eficaz, o que já é positivo.
Em 27 Apr 2023