Autor: Filipe Manuel Neto
**Entretém, mistura bem acção e comédia, mas não é perfeito e tem várias falhas complicadas.**
Este é um daqueles filmes que marcaram os anos Noventa, e que quase toda a gente já viu pela TV ou em VHS/DVD. Foi um grande sucesso e até hoje tem admiradores que não o deixam cair no esquecimento. A história deste filme não podia ser melhor, muito embora seja semelhante a um filme francês mais antigo, que serviu de inspiração aos produtores e ao director, James Cameron. Começa por nos apresentar Harry, um agente secreto de uma agência governamental muito secreta. Ele faz um trabalho arriscado e cheio de acção, mas nunca contou à esposa, que pensa que ele é apenas um vendedor, e começa a ter um caso com um vendedor de carros usados que lhe disse ser um agente secreto. Quando Harry descobre, resolve usar os meios da sua agência para dar à sua mulher um leve aroma do que é a sua própria vida, mas as coisas complicam-se quando os terroristas que ele seguia conseguem apanhá-los aos dois.
O filme começa muito bem, com uma excelente sequência de acção que não fica atrás de muitas das melhores cenas de James Bond ou de *Missão Impossível*. Cameron mostra claramente ao que vem e o que pretende fazer, e é normalmente bem-sucedido nos seus esforços, ainda que, por vezes, exagere um pouco na dose e torne as cenas de acção histriónicas. O filme aproveita bem a comédia situacional para temperar a acção e dar o filme um registo leve. Claro, a maneira como a acção e a comédia se conjugaram é algo que pode ser discutido e que alguns irão dizer que está mal, mas eu pessoalmente nunca vi nenhum problema no resultado final. De facto, e observando a quantidade de filmes onde a inserção de humor e comédia arruína o resultado final, este é um dos filmes onde isso foi feito de maneira mais eficaz e com maior habilidade.
O elenco conta com vários nomes bem conhecidos. Por um lado, Arnold Schwarzenegger estava a viver um bom momento da sua carreira, na esteira de sucessos anteriores, e apresenta-se aqui com grande desenvoltura e empenho. Bill Paxton não surge tanto, mas é crucial para o enredo e faz um trabalho muito bom, o mesmo se podendo dizer de Tom Arnold, com a ressalva de que ele, por vezes, era muito irritante. Tia Carrere foi uma vilã ‘sexy’ e muito maquiavélica, ao melhor estilo de algumas “bondgirl” famosas. Jamie Lee Curtis teve, por outro lado, uma performance algo desigual: ela era boa como dona de casa e até as cenas com o amante ficaram excelentes, mas teria sido melhor vê-la mais segura e confiante no final do filme. Curtis limitou-se a ser a donzela em perigo. Em contrapartida, brinda-nos com uma das cenas de ‘striptease’ e pole dance mais famosas da história do cinema. Quem ficou pior no filme foi Art Malik ao aproveitar todos os clichés e preconceitos sobre árabes e terroristas para elaborar a sua personagem. O resultado da auto-indulgência de Malik (e também do director Cameron, ao não dar material melhor ao actor) é uma personagem que é, basicamente, um estereotipo ambulante.
Tecnicamente, o filme aposta largamente nos efeitos especiais, visuais e sonoros. É um filme de James Cameron, convenhamos! Não havia como esperarmos coisa diferente! Até aviões e caças a jacto foram aproveitados nas cenas de acção, e as lutas e perseguições são electrizantes. Bons cenários, um bom uso da tela verde e excelentes figurinos, associados a uma cinematografia competente, ajudam o filme a ser visualmente elegante e apelativo.
Em 19 Sep 2021