Autor: Filipe Manuel Neto
**Uma produção Disney que prometia muito mais do que cumpriu.**
Como qualquer criança que nasceu nas últimas décadas, eu convivi com os filmes Disney na infância. Porém, por qualquer razão que não recordo, nunca me senti atraído por este filme e acabei por nunca o ver até hoje. Após o ter visto, estou realmente pouco impressionado.
O maior problema que senti neste filme é a pobreza e falta de inspiração do roteiro, que faz uma adaptação livre da história original, escrita por Edgar Rice Burrough. As personagens não são as mais bem concebidas, há imensas personagens irritantes por aqui (o pai de Jane, a generalidade dos gorilas, e muito particularmente Terk e Tantor, um duo de personagens secundárias muito infeliz) e até Tarzan é mal concebido e desinteressante. A sensação que impera é que a equipa de roteiristas não sabia o que fazer com a tarefa em mãos e improvisou qualquer coisa.
Para tornar as coisas piores, há imensos problemas de lógica neste filme. Por exemplo, não há uma noção exacta do tempo que passa, e por isso ficamos com a ideia de que Tarzan aprendeu as primeiras palavras humanas de uma forma quase instantânea. Outra coisa que não faz muito sentido é a forma como o próprio Tarzan não reconhece as diferenças físicas entre si e os gorilas com que vive, bem como as semelhanças imediatas entre si mesmo e Jane. Nalgum momento, ele terá visto o seu próprio reflexo, não? Não quero com isto dizer que o filme é mau… mas a verdade é que sinto que a Disney já nos deu trabalhos muito melhores e mais interessantes.
Em geral, penso que o elenco de vozes não fez um trabalho mau, com cada um dos envolvidos a dar o seu melhor e a fazer tudo o que era pedido da melhor forma possível. Pessoalmente, eu não gostei muito de algumas opções. Tony Goldwin, por exemplo, deu voz à personagem central do filme de uma forma relativamente mediana, mas a sua voz não tem nada de particular ou de carismático (bem, a personagem foi despida de qualquer carisma). Para mim, foi Glenn Close a actriz que mais se destacou, mas com muito pouco para dizer, e Rosie O’Donnell é a que mais me irritou, com uma voz muito desagradável.
O ponto forte do filme é o visual elaborado e a animação, muito bem executada graças ao CGI de alta qualidade. Não tenho a certeza, mas talvez este tenha sido um dos primeiros filmes do estúdio a utilizar, de modo mais regular, a animação computorizada. O certo é que o visual do filme é primoroso, é um pouco distinto quando comparado aos filmes mais antigos de meados da década. E se é um facto que os filmes Disney têm, em geral, uma atenção muito particular à banda sonora e às canções, este filme mantém essa característica, tendo contratado Phil Collins para escrever e cantar várias canções. Infelizmente, e apesar de o filme ter ganho o Óscar de Melhor Canção com “You’ll be in my Heart”, não gostei rigorosamente de nenhuma delas e acho a sonoridade do filme particularmente má.
Em 27 Aug 2022