Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme tão vazio como uma casa assombrada.**
Compreendo perfeitamente o fascínio pela Casa Winchester, uma mansão antiga que nasceu da vontade e das ideias de Sarah Winchester: dona de uma fortuna ligada ao fabrico de armas de fogo, ela pensava estar a ser perseguida pelos fantasmas das pessoas mortas pelas armas que a sua empresa fabricava e foi aconselhada por um médium a viver numa mansão sempre em remodelação, com quartos e salas permanentemente a serem adicionadas ou demolidas de forma aparentemente aleatória. Sarah Winchester realmente acreditava que seria morta se parasse ou acabassem as obras, pelo que a casa só ficou pronta (obviamente inacabada) com a sua morte, abrindo ao público em seguida, como atracção turística. É uma história fascinante, curiosa e bizarra, mas que levou um bom tempo a chegar ao cinema.
O filme, porém, não é notável, limitando-se a ser só mais uma história de fantasmas numa casa assombrada. Os Irmãos Spierig (directores e roteiristas) não trazem nada de novo ao seu filme, limitando-se a utilizar quase todos os clichés regulares do terror americano, incluindo imagens estáticas e assustadoras que aparecem do nada (em momentos bastante previsíveis) para os habituais pulos do sofá. Como filme de terror de casa assombrada, já vi melhor.
Um dos maiores problemas do filme é o roteiro pobre e a má concepção das personagens. Os dois irmãos que asseguram o roteiro ficaram tão encantados com a casa misteriosa que não se revelaram capazes de criar uma história realmente intrigante em torno dela e da sua moradora original. Tudo corre razoavelmente bem a partir do ponto em que o médico chega à mansão, mas a história precedente, que justifica a sua viagem e estadia no lugar, é muito forçada. Por sua vez, o toque melodramático no final, envolvendo o médico e um fantasma do seu passado, era previsível desde o começo e é muito enjoativo. Mal escritas e quase sem personalidade, as personagens limitam-se a aparecer, falar e desaparecer sem que nos importemos com elas. E como se a verdade não bastasse para fazer crer na possível maldição da família Winchester, o roteiro fez uma história completamente inventada para Marion Marriott, sobrinha (e herdeira) da dona da casa. Ela existiu na vida real, mas a vida dela não foi como o filme refere e o marido dela não morreu como é dito. É uma invenção despropositada e desnecessária.
O elenco conta com um punhado de nomes conhecidos, mas talvez eles não desejem mesmo ser lembrados por este trabalho que fizeram aqui. De facto, o esforço do elenco é reduzido, e a sensação que impera é que os actores não estavam realmente empenhados, ou motivados. Se Helen Mirren é a actriz mais tarimbada e famosa do elenco, a verdade é que ela nunca está de facto ali, de corpo e mente. Ela parece alheia, ou desinteressada. Jason Clarke ainda parece ter algum interesse no que faz, e eu senti que o actor tentou fazer algo positivo, mas não terá tido grandes oportunidades para ir além do que fez.
O filme não é um brilharete técnico. Houve tentativas para filmar na casa original, mas é-nos dito que a própria concepção da casa, com espaços apertados e pouca luz, não será ideal para filmagens de cinema. Pessoalmente, acredito também que a própria organização que gere o imóvel tenha mostrado alguma renitência em permiti-lo, posto que sempre têm tido, até hoje, grande contenção na permissão de captação de imagens do interior da casa. Tudo o que foi recriado em estúdio parece-me bastante bem feito, e gostei dos cenários e da casa. No entanto, os valores de produção param basicamente aqui… a cinematografia é bastante básica e a edição é banal, mas consegue dar ao filme um ritmo que não é cansativo. Os adereços e os detalhes de época parecem convincentes, mas o CGI é pobre, as imagens feitas digitalmente têm muito pouca qualidade e os efeitos visuais e sonoros parecem baratos e elementares.
Em 29 Jul 2022
