Autor: Filipe Manuel Neto
**Um excelente filme, que merece a nossa atenção.**
Vi este filme ontem. Andava a pensar nisso há um tempo, e ontem aproveitei para o fazer. Eu já tinha uma noção de que foi um filme muito bem-sucedido, e que fez sucesso, na bilheteira e na crítica especializada. Para um filme de terror, isso é algo bastante bom. Da minha parte, penso que é um filme bom, bastante acima da média. É um filme tenso, que trabalha bem o ambiente… e sim, tem momentos assustadores. Nomeado para Melhor Filme, Melhor Actor e Melhor Roteiro Original, venceu o Óscar nesta última categoria.
O roteiro trabalha, maioritariamente, em cima da questão do racismo mais educado, mantido e cultivado pelas elites brancas de alguns meios norte-americanos, onde sem hostilizar os negros, estes são vistos como “aves raras” no meio onde estão. Depois, o filme parte dessa base para algo mais denso e tenebroso: o protagonista vai começando a perceber que as pessoas daquela família agem de modo estranho, e que os negros que estão lá parecem autómatos. Vale a pena ver o que acontece depois…
Este filme procura, de todas as formas, escapar ao estigma do terror americano: os sustos que, por acção dos efeitos, nos fazem pular na cadeira. Procurando dar-nos mais, trabalha muito com o ambiente, e a tensão vai-se impondo gradualmente à medida que cresce a nossa simpatia pela personagem principal. E esse é o ponto forte do filme, e o que o torna diferente, pela positiva. Jordan Peele fez um trabalho muito competente na direcção, e mostrou que entende de terror e pode dar uma lufada de ar fresco ao género. E isso torna-se mais relevante se considerarmos um aspecto já destacado por muita gente: ele era um novato completo quando dirigiu o filme.
No tocante às actuações, creio ser justo valorizar a atuação de Daniel Kaluuya, mais do que empenhada e tensa. Ele esteve realmente muito bem e se o filme funciona de maneira tão boa, em parte, é mérito deste competentíssimo actor. Allison Williams também deixa uma boa interpretação. Gostei especialmente do trabalho de Catherine Keener. Ela faz um trabalho muito pequeno, aparece pouco tempo no filme, mas é muito impactante.
Apesar de não ser um filme de grande orçamento, eu penso que soube aproveitar cada moeda da melhor forma e dar provas de que um bom filme não precisa, realmente, de ser caro de fazer. A cinematografia é muito boa, está dentro do padrão dos filmes actuais, mas faz muito bem o seu trabalho. Os cenários e os figurinos também não sobressaem muito, ainda que tenhamos de destacar algumas notas de qualidade, como as roupas de algumas personagens e, muito em particular, a sala onde uma das personagens acaba aprisionada. Os efeitos visuais e sonoros são bons, e são usados com inteligência e cuidado. A banda sonora faz, sem se impor, um trabalho competente e discreto.
Em 19 Dec 2022