Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme acutilante sobre uma situação que cada vez mais ameaça os jovens.**
Fiquei realmente bem impressionado com este filme, não só pelo roteiro como também pelas interpretações de alguns dos actores. Apesar de já ter sido lançado há mais de dez anos, o filme não podia ser mais actual hoje em dia. Os nossos jovens e adolescentes, que cresceram com os computadores e as tecnologias, encaram-nas de forma tão amigável que muitas vezes não são capazes de ver os perigos que escondem. Cabe aos pais a missão, espinhosa, de impor limites e regras ao seu uso, de informar e aconselhar… mas vamos ser honestos: qual o adolescente que está realmente disposto a ouvir os pais e as suas regras?
O roteiro começa por nos apresentar uma família comum, de classe média-alta. Enquanto que os pais trabalham e o filho mais velho se prepara para entrar para a universidade, a filha mais nova está a tentar integrar-se no círculo das meninas populares da escola após conseguir entrar para a equipa escolar de voleibol. É uma vulgar adolescente, com as inseguranças de muitas outras meninas… até que começa a conversar online com um rapaz desconhecido. Ela percebe que ele é mais velho, mas só quando se encontram pessoalmente é que ela compreende que é já um trintão. Mesmo assim, ela continua o relacionamento e as intimidades crescentes levam a um envolvimento sexual, e a uma crise familiar quando os pais descobrem, e tentam descobrir a identidade do sedutor, posto que abuso sexual de menores é, obviamente, crime.
Bem, eu creio que tenho de começar por dizer que já vi, na vida real, vários casos e situações semelhantes à deste filme. É cada vez mais comum que as adolescentes mantenham namoros e relacionamentos online, muitas vezes sem se encontrarem pessoalmente, mantendo conversas mais ou menos apimentadas pelas redes sociais. É uma nova forma de sexualidade que surgiu da Internet e que pode realmente baralhar a cabeça de uma jovem mais influenciável. E não é assim tão raro que as jovens encontrem, casualmente, um adulto com quem mantêm esse tipo de contacto. Ele pode assumir a diferença de idade ou não, e elas podem ou não aceitar isso, e podem até usar a situação como uma forma de rebeldia perante os pais. Mas o facto de ser cada vez mais comum não significa que seja algo aceitável. É uma situação perigosa, onde os jovens se podem entusiasmar e revelar demasiado de si mesmos (hábitos, costumes, fotos eróticas ou vídeos etc.) a potenciais predadores sexuais. São perigos que podem mesmo deixar um pai ou mãe preocupados. E basta um passeio pelas redes sociais, como o Instagram ou o Tik Tok, para vermos a forma como os jovens se expõem cada vez mais. Além de fazer um retracto bastante crível de uma situação que poderia ser real, o filme explora bem os conflitos relacionais entre a jovem adolescente e os seus pais e as consequências do que aconteceu na sua vida escolar e no relacionamento com os amigos e com ela mesma.
O elenco é, no geral, bom e faz um trabalho positivo. A direcção é eficaz, mas não brilhante. As melhores performances vêm da jovem Liana Liberato, que conseguiu ser convincente no papel e dar-nos uma boa interpretação, e também de Catherine Keener, muito boa no papel de uma mãe perfeitamente angustiada. Clive Owen é suficientemente bom, mas não me parece o actor mais indicado para o papel, na medida em que tornou a personagem excessivamente brutal. O desempenho de Chris Coffey e Jason Clarke é decente, mas básica.
Tecnicamente, o filme é satisfatório, na medida em que faz tudo o que precisa de fazer, mas não vai além disso. A cinematografia é decente, mas não vai além do padrão. Não há efeitos ou uma banda sonora realmente interessante, mas a edição foi bem executada.
Em 17 Oct 2022