Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme interessante, mas onde as personagens secundárias são mais apelativas do que a principal.**
Eu não sou um especialista em boxe, portanto nunca ouvi falar de Micky Ward e tive de ir à ‘internet’ ver quem era. Não sei dizer se o filme foi fiel aos factos ou se as coisas foram realmente como são mostradas. Vou ignorar esses pontos e falar do filme, e da história que conta, somente.
O filme fala de dois irmãos ligados ao boxe: um deles, Dicky, foi no passado um bom lutador, mas as drogas levaram a melhor sobre ele e impediram-no de ir mais além. Não obstante, ele ainda é o orgulho da família, especialmente da mãe, que teima em não ver o que ele faz. Micky tem aspirações a ser um bom lutador, mas não consegue porque os familiares não o ajudam. E aquela família, por si mesma, é motivo suficiente para compreendermos os motivos pelos quais o jovem aspirante a campeão se sente tão asfixiado.
O filme é bastante interessante e entretém mais do que eu estava à espera. A forma como ele vai explorando as relações familiares e a loucura daquela família é excelente. Além disso, o filme faz uma análise interessante do funcionamento e da mentalidade de uma cidade pequena e atrasada, onde um individuo se torna num herói por pouco, à falta de outro que lhe faça sombra e que, verdadeiramente, mereça o reconhecimento público por algo grande que tenha feito.
O elenco é grandioso e está cheio de nomes sonantes. Mark Wahlberg é bastante bom no papel e empenhou-se, mas o facto é que a personagem é desinteressante e não há muito o que fazer acerca disso. Quem verdadeiramente se destaca e rouba todas as atenções é o duo composto por Christian Bale e Melissa Leo que, em duas personagens secundárias, souberam tornar-se nas estrelas do filme e brilhar, com uma sucessão de loucuras impressionante. Ambos os actores são bons e o empenho total foi recompensado com o Óscar, as duas únicas estatuetas que este filme arrecadou, das várias para as quais estava nomeado naquele ano. Amy Adams também faz parte deste filme, mas ela, tal como Wahlberg, tem um protagonismo reduzido: ela limita-se a ser a namorada gostosa do protagonista e a provocar a família dele tanto quanto possível.
Tecnicamente, é um filme discreto. A cinematografia é boa, e faz bom uso das cenas de acção e de luta. Os cenários e figurinos condizem com o exigido pela história, mas não sobressaem. Há vários efeitos visuais e a equipa de maquilhagem foi eficaz na reprodução de cortes e feridas, o que, estou certo, é algo habitual para estes especialistas. O que mais me chamou a atenção foi, efectivamente, a banda sonora, que utiliza várias melodias de Michael Brook e uma canção que ficou conhecida, chamada *How you Like Me Now?*, dos The Heavy.
Em 21 Feb 2021