Autor: Filipe Manuel Neto
**Esperava muito mais: este filme é uma sombra daquilo que deveria ter sido.**
Acho que é redundante dizer o que todos já sabem: o grupo Monty Python representa o ápice do humor britânico, e se cada um daqueles comediantes é excelente sozinho, vê-los juntos tem sempre um bónus. Este filme, contudo, é um trabalho tardio do grupo, quando cada um deles já estava a começar a ter carreira solo e a notoriedade do grupo estava consolidada. Há parcerias incríveis no mundo artístico, e se nós pensarmos bem vamos pensar em imensas bandas de música, series televisivas ou trupes de actores que resultaram incrivelmente bem e fizeram sucesso por certo tempo. A questão é que muitas delas não souberam harmonizar uma existência conjunta com os crescentes compromissos de agendas individuais de cada elemento. E eu creio que isso aconteceu com os Python, e que ajudou a complicar este projecto.
O filme faz rir, tem alguns momentos bons, mas é uma sombra se o tentarmos comparar a “O Cálice Sagrado”, por exemplo. Isso é o busílis da questão: não é mau, mas devia ter sido muito melhor, considerando o talento dos envolvidos! Para mim, uma boa parte do problema vem do facto de ser uma sucessão de sketches humorísticos quase sem correlação evidente entre si. Nós podemos admitir isso num programa cómico de TV, isso é feito habitualmente e funciona muito bem. Num filme, espera-se maior coesão, unidade e homogeneidade. Não é uma regra inquebrável, mas era uma expectativa que eu tinha.
Outro problema deste filme é a qualidade do humor. Já sabemos que o humor tem momentos mais pueris e outros que são francamente ácidos, mas o filme recorre demasiado ao riso fácil e ao humor simplista e pouco refinado: um homem que é condenado à morte e escolhe cair de um precipício após ser perseguido por mulheres nuas; um homem enormemente obeso que, num restaurante luxuoso, vomita tudo ao seu redor e come uma dose regimental de comida; uma aula de educação sexual para meninos totalmente ingénuos (algo impossível de acreditar, mesmo considerando a época em que o filme foi feito) e com direito a exemplificação prática e gratuitamente visual do acto sexual, em sala de aula… qual a piada disto?
Como eu disse, o filme tem alguns bons momentos. Eu adorei o sketch da sala de partos, acho que é de um sarcasmo absolutamente delicioso e que ainda funciona como crítica ao estado da generalidade dos serviços públicos de saúde. Também gostei da Seguradora Crimson, que não é mais do que uma gigantesca paródia aos filmes de pirataria de Errol Flynn, especialmente ao “Gavião dos Mares”, mas que tem um toque simpático e de crítica à globalização e ao capitalismo desenfreado. Muito menos agradável, mas igualmente hilariante, o enorme sketch musical dos católicos irlandeses, recheado até aos ossos de politicamente incorrecto e com alfinetadas bem certeiras ao discurso de rejeição que a Igreja Católica ia mantendo no tocante aos métodos contraceptivos.
Em 08 May 2023