Autor: Filipe Manuel Neto
**Apesar do corte radical com os filmes e personagens anteriores, o filme tem o seu valor e traz um certo sangue novo à franquia.**
A franquia MIB começou bem, teve um péssimo momento com o segundo filme e recuperou um pouco no terceiro filme. Os três, porém, foram resultado da direcção de Barry Sonnenfeld, que abandona agora o projecto e cede a direcção a Felix Gray. Os protagonistas, Will Smith e Tommy Lee Jones, também não voltam aos seus papeis, tornando o filme, basicamente, num spin-off.
O roteiro é uma lufada de ar fresco: abandonamos solo americano e deixamos para trás o que conhecemos. A história ambienta-se quase totalmente em solo europeu, entre Londres e Paris. É lá que vai estagiar a nova Agente M. Ela sabe da existência da agência desde criança, sempre quis pertencer-lhe e agora tem a sua oportunidade. Em Londres, fica sob a orientação do chefe, o Agente High T, e colabora com o Agente H, que é considerado o melhor agente britânico. Após a morte de um membro da realeza de um planeta alienígena ao cuidado deles, eles apercebem-se que está para breve uma invasão da Terra, competindo-lhes impedir essa ameaça.
Sinceramente, custou-me a elaborar uma opinião acerca deste filme. Por um lado, a franquia necessitava desesperadamente de uma injecção de sangue novo e coisas novas. Simplesmente não se podia insistir numa fórmula esgotada! Por outro, entendo aqueles que possam sentir-se defraudados nas suas expectativas, visto que as caras conhecidas (muito particularmente Smith e Jones) desapareceram de cena. Após pensar um pouco acerca do que vi, cheguei à conclusão de que o risco de cortar radicalmente com o que foi feito anteriormente e apresentar ao público algo feito com actores diferentes foi, talvez, uma boa ideia. Nunca agradará a todos, em especial aos fãs de Will Smith e Tommy Lee Jones, ou àqueles que entendem que deveria ter-se mantido uma linha de continuidade entre todos os filmes, mas eu lidei bem com tudo isso, e acho que as mudanças tiveram mais vantagens do que, propriamente, desvantagens. Claro, isso poderia não ter resultado tão bem se o roteiro e as personagens não tivessem sido bem concebidos.
De facto, as personagens foram bem pensadas, têm força e carácter, e não ficam atrás das que já conhecíamos, especialmente M e H. A escolha dos actores também foi feliz: gostei do trabalho de Tessa Thompson e de Chris Hemsworth, e da forma como o filme foge à tentação de criar uma qualquer sub-trama romântica entre eles, o que teria sido demasiado cliché. Infelizmente, Emma Thompson tem pouco o que fazer neste filme, mas o que ela faz é bem feito. Liam Neeson é um actor extremamente hábil e competente e faz o seu trabalho muito bem, mas a partir do meio do filme a personagem dele é um vilão óbvio que nos é entregue de forma excessivamente simplista.
Tecnicamente, o filme tem muitas qualidades, começando por uma cinematografia muito boa e com boa luz e um uso inteligente e elegante das cores. A câmara faz um trabalho dinâmico e vai acompanhando o movimento, principalmente nas cenas de acção. O filme aposta fortemente num visual estilizado, nas cenas nocturnas, e no CGI de boa qualidade que a tela verde permite e que dispensa, muitas vezes, o recurso a filmagens no local. Infelizmente, e senti isso por mais de uma vez, os ambientes londrinos e parisienses soam excessivamente falsos e artificiais, isto é, é evidente demais que é tudo feito digitalmente. Gostei da generalidade dos alienígenas e do visual deles, por vezes, original e bizarro. Os cenários e figurinos são geralmente bons, e gostei da forma como os fatos pretos das personagens foram, desta vez, mais individualizados. Quanto à banda sonora, que herda alguns leitmotiv anteriores, é razoavelmente esquecível.
Em 06 Sep 2022