Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme bastante decente, que aposta tudo na mediania e na comédia familiar.**
Como já tive ocasião de dizer noutras resenhas que escrevi, não sou um apreciador em particular de comédias românticas, muito embora acredite que consigo apreciar a qualidade e o valor quando eles estão presentes. Durante a pandemia, quando todos nós tivemos fechados em casa contra a nossa vontade (eu lidei com isso bem, mas tive amigos à beira de um ataque de nervos), um amigo meu falou-me neste filme e disse que não gostava nada dele, porque dava aos espectadores uma mensagem negativa, banalizando o acto de largar alguém no altar. Nessa época, eu achei estranho, mas acabei por não ver o filme. Vi-o agora, e tendo a não concordar com o meu estimado amigo.
O roteiro começa com uma divergência entre uma mulher de uma cidade pequena e um escritor e jornalista da grande cidade, quando este último escreve, na coluna de jornal que tem, acerca dela e da sucessão de noivos que ela já abandonou no altar. Obviamente ofendida, ela responde ao artigo, levando-o a perder a posição no jornal. Claro, ele não desiste, vai até àquela cidade e resolve investigá-la. A aproximação entre ambos acabará por os levar a um improvável romance.
De facto, acho que o meu amigo encarou o filme com demasiada seriedade. Qualquer pessoa com inteligência compreende a diferença entre uma piada e algo sério, portanto eu não acredito que alguém vá levar o filme a sério. Além disso, o filme foi lançado em 1999 e nós estamos em 2022… nos tempos actuais, que é o casal que pensa em casar-se? Existem, naturalmente, mas são poucos num mundo onde os empregos, as casas e os relacionamentos amorosos são, cada vez menos, pensados para durar uma vida inteira (é um dos problemas do mundo moderno, na minha opinião, mas é a verdade).
O filme assenta muito nas performances de Julia Roberts e Richard Gere, que já vimos juntos e em grande forma no filme “Pretty Woman”. Pessoalmente, gostei muito mais desse filme, posto que as personagens eram muito mais palatáveis. Aqui, temos essencialmente um duelo de egos entre duas pessoas teimosas que acabarão por ver o lado bom uma da outra. Também existe um grau bastante elevado de previsibilidade na história contada, mas isso é um dos problemas recorrentes nas comédias românticas, onde as personagens acabam, quase invariavelmente, no altar. Apesar de tudo isso, o trabalho de Gere e de Roberts é bastante satisfatório e conseguirá agradar aos apreciadores do género.
A nível técnico, o filme não se destaca nem aposta particularmente, preferindo jogar pelo seguro e manter uma estética e um visual bastante convencionais. É quase como o prato do dia naquela cafetaria onde almoçamos todos os dias, no intervalo do trabalho: feito para ser barato e ficar ao agrado da maioria dos fregueses. Assim, temos cenários, figurinos e locais de filmagem que são simplesmente regulares, uma cinematografia ‘standard’ e uma banda sonora insossa. O filme estica o roteiro, há problemas de ritmo e momentos em que o filme adormece por pura falta de assunto. Muito melhor é a concepção dos diálogos, bastante espirituosos e bem redigidos.
Em 24 Oct 2022