Autor: Filipe Manuel Neto
**O filme mais açucarado da saga.**
Este filme foi baseado numa série de livros "best seller" acerca do romance entre um vampiro e uma jovem humana. Eu nunca li os livros (nem pretendo), mas se a história de amor de Edward e Bella era suposto ser épica, algo não resultou. Apesar disso, este filme foi, como os antecessores, um campeão de bilheteiras, os adolescentes consumiram-no bem e o estúdio esfregou as mãos de satisfação.
A trama resume-se assim: após vencerem Victória e o seu exército, Edward e Bella resolvem casar, para tristeza de Jacob. Mas algo corre mal na lua-de-mel, no Brasil e Bella revela sintomas de gravidez, o que não faz sentido pois vampiros não deveriam poder ter filhos. A velocidade de desenvolvimento do feto e a forma agressiva como vai sugando as energias e nutrientes do corpo de Bella faz com que todos temam pela vida dela, e pela natureza do ser que ela carrega.
O novo director é Bill Condon, que para mim é um desconhecido. Ao contrário do seu antecessor directo, substitui a acção e as cenas de luta por um certo sentido cinematográfico e uma tensão crescente que ajuda a atenuar a doçura excessiva da história e a tornar o filme tolerável. De facto, acho que este é o filme mais meloso e açucarado da saga, o que foi um ponto negativo. A acção atinge o clímax na cena do parto, uma das melhores da saga, e o final foi muito bem conseguido. O ritmo do filme também é muito mais equilibrado que o seu antecessor directo, embora seja lento ainda.
Apesar de tudo, o filme ainda tem problemas herdados dos filmes anteriores. A cada filme se acentua a sensação de que Kristen Stewart e Robert Pattinson foram erros de casting. Com algumas excepções (a cena do casamento, a cena de sexo, a cena do parto) quase não há química entre eles. Há, de facto, uma melhoria geral no desempenho de ambos, mas Stewart continua a ter de trabalhar a falta de expressividade facial dela. Pattinson também melhorou muito e ajudou a dar força e paixão ao romance de Edward e Bella (finalmente!). Taylor Lautner, que começou a saga bem e foi crescendo, eclipsa-se ao longo deste filme, talvez fruto da perda de relevância da personagem dele. O actor não tem culpa, mostrou ser melhor do que é aqui, mas não pode fazer melhor quando o material que lhe é dado pelo argumentista é uma porcaria, e isso foi um problema constante nos filmes da saga. Se há alguém que, ao longo de toda a saga, assinou um atestado de incompetência e imbecilidade, essa pessoa foi Melissa Rosenberg. O elenco secundário mantém o nível positivo dos filmes anteriores. Billy Burke e Ashley Greene são muito bons, tal como Peter Facinelli, Elizabeth Reaser, Nikki Reed, Maggie Grace e Booboo Stewart.
Tecnicamente, o filme mantém o bom CGI, visível no trabalho dos lobos mas é mais discreto nos recursos visuais e computacionais do que o filme anterior. A banda sonora desta vez é assinada por Carter Burwell e é muito boa. Bons cenários, adereços, e muito boas imagens de paisagens em grande escala completam o trabalho técnico. Gostei, muito particularmente, da cinematografia de cenas com o casamento ou a cena de sexo, uma das mais bonitas que já vi em cinema, sem nudez excessiva, provando que não é preciso mostrar "a coisa acontecendo" para fazer uma boa cena de sexo em cinema.
Este filme é o mais romântico da franquia, e a metade inicial é só mel, enjoando-nos ao ponto de quase desistirmos de ver o resto. Melhora muito do meio para o fim, com a introdução de elementos de tensão e perigo crescente a temperarem a doçura excessiva e a mascararem as falhas dos actores principais.
Em 26 Mar 2020