Autor: Filipe Manuel Neto
**A magia da música e do amor filial.**
Gostei bastante deste filme, que tem uma temática adorável e tocante, associada à beleza e ao sentimento da música. Como se fosse um conto de fadas moderno que, não por acaso, foi muito inspirado pela história de *Oliver Twist*, o clássico de Dickens.
A história começa com o encontro de dois jovens, ambos músicos: ele é vocalista de uma banda rock que formou com os irmãos; ela é uma menina rica, privilegiada, que aprendeu nas melhores escolas e, agora, é violoncelista numa orquestra. Ambos vivem uma noite de amor que os marcará para sempre, a despeito de ela ser afastada dele por um pai controlador. Desse amor nascerá um filho, que é afastado da mãe contra a vontade dela e dado para adopção: Evan Taylor. Dez anos depois, ele foge do asilo de órfãos em busca dos pais, seguindo a música que o coração lhe mostra, e que a sua habilidade prodigiosa para a música o faz sentir mais fortemente do que qualquer outra pessoa.
O filme é profundamente tocante e bonito, e toda a história é envolvente. Eu nem senti passar o tempo enquanto via o filme, e fiquei realmente colado à história. Senti que o filme conseguiu fazer com que eu me importasse com as personagens, com o menino e com os pais, e com tudo o que lhes poderia acontecer. O final é excelente e realmente sinto que não se podia pedir mais e melhor. Apesar de o filme, a certos momentos, sugerir que há algo sobrenatural por detrás da forma como Evan/August, de certo modo, faz música na esperança de ser ouvido e identificado pelos seus pais, eu não compreendi as coisas assim: sendo dono de um dom musical único, ele entendia a música como nenhum de nós, então não vi nada de sobrenatural nisso, apenas uma magia que existe na própria música, uma magia que quem sabe tocar algum tipo de instrumento e o faz com gosto provavelmente compreenderá.
O elenco conta com um bom naipe de actores, todos eles de grande qualidade. O protagonismo vai, naturalmente, para o jovem Freddie Highmore, que nos brindou com um trabalho excelente e empenhado. Hoje mais maduro e já com uma carreira interessante, ele aproveitou este filme para se assumir como uma jovem promessa. Keri Russell também esteve perfeita no papel da jovem mãe, num trabalho cheio de sentimento e emoção. Mais contido, Jonathan Rhys Meyers esteve muito bem no papel dele, e deu à personagem um toque de rebeldia agradável, com um contraste interessante com a personagem de Russell (resultando em algo do género “dama e vagabundo”). Robin Williams, um actor extraordinário, aparece no filme com uma personagem secundária, mas determinante no rumo da história. Não é o melhor trabalho do actor, mas foi um esforço positivo e bem conseguido.
Tecnicamente, o filme é relativamente discreto, apostando claramente mais na performance do elenco e na história contada. Uma aposta, a meu ver, inteligente. A cinematografia é padrão e faz o seu trabalho com competência; os cenários e figurinos são muito bons. Pessoalmente, penso que o cenário do velho teatro ficou particularmente bom, bem como o figurino usado por Robin Williams. Também apreciei o trabalho de edição e o recurso a efeitos visuais discretos. Todavia, é o som, a qualidade sonora e a banda sonora do filme que, realmente, merecem destaque aqui, tanto pela beleza e musicalidade quanto pela originalidade. O filme foi nomeado para o Óscar de Melhor Canção Original (com a melodia ‘gospel’ *Raise It Up*), mas penso que toda a banda sonora merecia a nomeação.
Em 06 May 2021