Autor: Filipe Manuel Neto
**Mosqueteiros... Os Três Mosqueteiros.**
*Os Três Mosqueteiros* é um dos livros de ficção mais adaptados ao cinema. Esta é mais uma adaptação a acrescentar ao extenso rol, e não é uma das melhores. Como o roteiro é conhecido, não me vou deter a analisá-lo. Vou, todavia, fazer uma ressalva que é necessária: este filme não é, nem de perto, historicamente credível. É uma anacronia quase completa, e retracta os Três Mosqueteiros e, especialmente, Milady, como se fossem “James Bond” do século XVII, cheios de artimanhas e engenhocas inventivas para todas as ocasiões.
O filme é uma aventura que começa em Veneza, envolve uma máquina voadora supostamente inventada por Da Vinci, muitas armas criativas, lutas altamente coreografadas, acrobacias e até números de escalada e rotinas de ginástica por mulheres em espartilhos. Uma mistura de coisas tão incrível e absurda que eu estava à espera de ver automóveis também, e que mostra até que ponto a liberdade criativa de um argumentista pode chegar, se não lhe prenderem os pés à terra. No entanto, é um filme divertido e entretém bastante bem o público.
O elenco é um dos pontos fortes deste filme. Eu destaco, pela positiva, a actuação de Christoph Waltz, que transformou Richelieu num político hábil e manipulador sob as vestes de um homem da Igreja. Milla Jovovich também é bastante boa como Milady, uma agente dupla com um vasto arsenal e uma carta sempre na manga. Mads Mikkelsen é muito eficaz como vilão e parece um adversário temível. Os mosqueteiros (Luke Evans, Ray Stevenson e Matthew Macfadyen) são suficientemente bons, tendo em conta a reescrita das personagens neste filme, mas quase são relegados a personagens secundárias do seu próprio filme, um erro que é bastante comum nas adaptações cinematográficas desta história. Juno Temple e Freddie Fox são engraçados como casal, mas não têm muito para fazer. Pela negativa, não gostei de Logan Lerman, creio que foi um fraco protagonista apesar de parecer jovem e elegante, e acredito que Orlando Bloom, por ser quem é, simplesmente, recebeu demasiada visibilidade e relevância numa história onde isso não era necessário, resultado numa presença demasiado visível, cansativa.
Tecnicamente, o filme é bastante espectacular. A cinematografia é magnífica, com excelentes cores e nitidez, e o filme foi muito bem montado e tratado na pós-produção. O CGI é grandioso e se fossem necessárias mais provas de que há muito dinheiro investido no filme bastaria ver a escolha dos locais de filmagem: é um autêntico tour por alguns dos palácios barrocos mais belos da Baviera, tais como Wurzburg, Marienberg, Herrenchiemsee, Schleißheim e Pommersfelden. Se a beleza destes palácios é algo incontestável, o filme soube salientá-la ainda mais. Só lamento que, por vezes, o filme parece mais barroco do que deveria ser, como se a história estivesse a ser ambientada cinquenta anos depois, nas primeiras décadas do século XVIII. O mesmo se vai podendo dizer dos figurinos que, mesmo assim, parecem grandiosos e detalhados. Contudo, já disse que o rigor histórico foi atropelado e morto neste filme. A banda sonora não surpreende, assumindo um tom adequadamente épico sem ser histriónico.
Em 14 Feb 2021