Autor: Filipe Manuel Neto
**Óscares para quê?**
Este filme gira em torno de um pequeno motel gerido por Norman Bates, um homem aparentemente normal que vive sob a autoridade incontestável da sua mãe. Dirigido por Alfred Hitchcock, este filme, considerado por muitos a sua _magnum opus_, tem um roteiro de Joseph Stefano e um elenco liderado por Anthony Perkins e Vera Miles.
Eu não considero este filme um filme de terror, embora seja considerado como tal pela maioria das pessoas. Não me assusta mas deixa-me desconfortável, preso ao ecrã. E acho que é isso que Hitchcock queria. Ele era o mestre do suspense e sabia como segurar o público, causando tremores de desconforto sem deixar o público aos gritos. O enredo é brilhante mas o começo não o revela, sendo intencionalmente pouco atraente num esforço para deixar o público completamente à vontade até Norman entrar. Norman Bates é um dos personagens mais psicologicamente complexos que já vi, e foi desenvolvido ao extremo pelo director e pelo artista que lhe deu vida. Parece um tipo simpático, que até namorisca com a mulher atraente que ele acabou de conhecer.
A cena do banho é talvez uma das mais famosas do filme (eu li nalgum lugar que usaram chocolate líquido para obter a cor que Hitchcock pretendia para o sangue) e a banda sonora incidental usada tornou-se um ícone em si mesma. Mas o final é ainda melhor, com um clímax absolutamente assombroso que faz com que todo o público sinta que valeu a pena ver o filme, mesmo se já conhece toda a história. A fotografia, a preto e branco, ajuda decisivamente a aumentar a tensão e tenho a certeza de que essa foi uma escolha consciente e deliberada de Hitchcock para o conseguir, mostrando novamente a grande qualidade e talento deste director.
Nomeado para quatro prémios da Academia (Melhor Direcção de Arte em Filmes a Preto e Branco, Melhor Cinematografia a Preto e Branco, Melhor Direcção e Melhor Actriz Secundária), o filme não ganhou nenhum, o que nos mostra que, às vezes, a Academia também erra. Mas "Psico" não precisa de um Óscar para ser um sucesso. A maior prova da sua qualidade é ter permanecido, por mais de cinquenta anos, um marco do cinema, um filme de culto para os amantes de Hitchcock ou de suspense, com largas legiões de apreciadores. Filmes como este nunca morrem, são arte na sua forma mais pura. Óscares? Para quê?
Em 24 Feb 2018