Autor: Marte
**Contém spoilers, mas como são acontecimentos históricos, não são exatamente spoilers, né?**
Muitas pessoas relataram que faltou um brilho para esse filme, que quase tudo é bem executado, mas ainda assim falta alguma coisa pra se tornar O Filme. Eu não vi nenhum problema óbvio com o longa, na verdade me senti engajada, curiosa, atenta até o final, achei as atuações ótimas. Não sei se entra para meu rol de favoritos, mas com certeza um dos bons filmes a que assisti recentemente. Você se enche de raiva por ver uma figura genuinamente interessada na libertação do povo negro (e de todos os outros), em solidariedade internacional, prestes a se tornar pai, sendo traída por uma figura mesquinha que estava sendo usada como um boneco pelos porcos escrotos do FBI, mas um boneco bem remunerado. Essa traição faz com que Fred Hampton, o "Messias Negro", seja cruelmente assassinado junto a outros companheiros. Uma vez, meu avô comunista deu uma entrevista comentando que a ideologia não é uma moeda que a gente simplesmente tira do bolso. Nesse caso, Bill, o Judas, não tinha nenhuma ideologia além de ser uma pessoa extremamente egoísta. Ele até mostra compaixão e arrependimento em alguns momentos do filme, o que, se ocorreu nos acontecimentos históricos reais, não o perdoa do desastre cruel que causou. Mas os principais vilões da história em geral, como *sempre*, são os policiais brancos envolvidos com o governo estadunidense. Essas figurinhas são o que há de mais podre na história estadunidense e continuam o sendo no filme.
Um excelente longa que retrata por um ponto de vista específico, o do traidor, uma passagem importante da história dos EUA. Não se engane, isso não é uma biografia de Fred Hampton, é a história de um Judas, William O'Neill. Recomendo. Mas assista com o estômago preparado, que é um filme revoltante, assim como toda supremacia branca.
Em 23 Jun 2024