Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme que merece ser revisitado e recordado.**
Acho injusto que este filme pareça estar tão esquecido actualmente, mas talvez isso se deva ao enredo intrincado e carregado de flashbacks. Eu consigo entender, mas penso que há filmes até mais confusos por aí e que nunca saíram de moda. Seja como for, é um filme de qualidade, com bons actores e uma história, no mínimo, intrigante. E se provas fossem precisas, talvez bastasse dizer que o filme levou para casa os dois Óscares para os quais foi nomeado (Melhor Roteiro Original e Melhor Actor Secundário).
Tudo começa quando um grupo de homens, aparentemente aleatório, é levado pela polícia para participar de uma acareação. O que parece inicialmente muito casual, não o é: todos eles eram criminosos bem conhecidos das autoridades, e muito particularmente um deles, que também foi da polícia e parecia ter-se regenerado e estar a viver uma vida honesta. Depois dessa cena de abertura, o filme mostra os esforços da polícia para capturar os responsáveis por um tiroteio num barco, com vários mortos e um único sobrevivente, que vai contar tudo o que ocorreu. E não digo mais nada porque este roteiro é um daqueles que fica melhor quanto menos se souber antecipadamente.
O elenco é dominado por dois grandes actores: Gabriel Byrne e Kevin Spacey. Cada um na sua respectiva personagem, mas ambos muito empenhados no seu trabalho, eles roubam a atenção do público sempre que aparecem, acabando por ser, de certo modo, complementares: Spacey dá vida a um homem aparentemente frágil e enfermiço que seria o suspeito mais improvável, ao passo que Byrne é o típico durão resistente a tudo. Não sei se posso dizer que este filme é o melhor de Spacey até agora, talvez isso seja precipitado, mas é seguro que o seu trabalho aqui lhe abriu portas para voar mais alto. Quatro anos depois, ele viria a ganhar o Óscar de Melhor Actor com “American Beauty”. Já Byrne, em contraponto, é um daqueles actores talentosos que me parece que nunca tiveram o seu grande momento no cinema. Quero ainda destacar o bom trabalho de Pete Postlethwaite, em mais uma personagem secundária de forte relevância, dois anos depois de ter recebido a sua (única até agora) nomeação ao Óscar.
Tecnicamente, creio que vale a pena louvar a direcção de Bryan Singer, que se manteve fiel ao suspense e conseguiu resistir à tentação de deixar o filme patinar em cenas de acção aparatosas e barulhentas que não eram realmente necessárias. O melhor do filme é o ambiente tenso que constrói, e a forma enigmática e misteriosa como vai contando a sua história, e isso ter-se-ia, em parte, perdido se o director recheasse o seu filme com tiroteios e perseguições aleatórias. Outro ponto que merece uma nota de louvor é a banda sonora, e em particular o tema central, usado na abertura e nos créditos finais, e que é perfeitamente atmosférico. O resto mantem-se pela mediania, mas é feito sem erros gritantes. Os únicos pontos que sinto dever criticar negativamente sao os gráficos dos créditos iniciais, que parecem muito datados agora.
Em 28 Nov 2022